terça-feira, janeiro 31, 2006

FILME: Free Zone


Free Zone (idem, 2005, de Amos Gitai) – **

Amos Gitai abre seu filme com impacto: o rosto de Natalie Portman chorando por 10 minutos. Ouvimos uma canção sobre animais se matando, num ciclo sem fim. Remete a Israel e Palestina, claro. Excelente cena, mas depois dela o filme só esfria. A mulher é Rebeca (Portman), turista americana que rompeu o noivado. Desnorteada, aceitou acompanhar a motorista Hanna (Hana Laszlo), que vai cobrar dívidas na zona livre do título. É um lugar fora de Israel – entre fronteiras – onde judeus e palestinos fazem negócios entre si.

Gitai filma este road-movie sem sair do carro. A câmera na mão busca o documental, mas esbarra em excessos da ficção. Ele mostra interesse na mudança de paisagens e a tensão entre fronteiras. Porém, estraga isso ao usar fusão – duas imagens simultâneas na tela – embaralhando flash-backs de Rebeca e Hanna com cenas da viagem. É um artificio confuso que nos distrai do mais importante num road-movie: as paisagens visitadas. Pior, os flash-backs nem conseguem tornar as personagens mais interessantes.

Na verdade o filme só fica atraente quando Rebeca e Hanna chegam na Free Zone. Ali conhecem a palestina Leila (Hiam Abbass), sem dinheiro para pagar Hanna. Tensão entre árabes e judeus é nítida, mas trio se entende aos poucos. Gitai aproveita e pincela problemas palestinos, não só políticos (Israel), mas culturais também. Finalmente o cineasta extrai, de maneira notável, algo humano e político de Free Zone. O desfecho meio surpreendente é uma alegoria cética para situação Israel/Palestina. Faz pensar que – sem confiança – não há entendimento entre povos. Free Zone não é grande filme, mas tem relevância. ___________________________________________________________

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sábado, janeiro 28, 2006

FILME: Espionagem na Rede (Demonlover)


A última crítica que fiz para o curso. O Francis considerou a melhor das três que escrevi. Até acho que ele tem razão. Mas se engana quem pensa que o tamanho maior (quase 3000 toques) facilitou minha vida. Pelo contrário, deu um trabalhão, mas foi gratificante.

O Francis elogiou principalmente o fato deu ter dado conta do filme sem a pretensão de querer esgotá-lo. Mesmo assim perguntei para ele de algo que considero um defeito em minhas críticas, não apenas em Demonlover. Acho meus textos racionais demais, contidos, sem emoção. O Francis completou dizendo que essa crítica em especial não deixa exatamente claro o quanto gostei do filme, só que gostei. Desconfio que essa afirmação vale para meus outros textos também. Mas Francis disse que isso é algo da experiência de cada um e pode mudar com o tempo. De qualquer modo, falou que não acha isso um problema intolerável numa crítica.

Espionagem na Rede (Demonlover, 2002, de Olivier Assayas) – ****

Na época (2002) de seu lançamento Demonlover foi considerado confuso e excessivo. Mas o mundo era (e ainda é) confuso e excessivo. O filme tem uma pretensão cada vez mais rara no cinema atual: captar o espírito de seu tempo. Ainda mais raro: essa pretensão é bem sucedida. Desde que você aceite suas imagens como elas são. Excesso de imagens, assim é Demonlover: filme, desenho animado, videogame, Sonic Youth. Demonlover capta o zapping de nosso mundo. Vê-lo é como assistir TV pulando de canal em canal. No canal 1 temos Connie Nielsen, canal 2 Chloë Sevigny, canal 3 Gina Gershon. Pelo menos a programação é boa.

Demonlover é excessivo para não criticar essas imagens do alto de um pedestal. "Esse mundo de imagens é feio e degradante", outro cineasta poderia dizer. Já Olivier Assayas entra nesse mundo para entendê-lo por dentro. Mas será que é possível entendê-lo? Esse é o dilema de Assayas e da personagem de Nielsen. Ela é uma executiva brutal negociando uma parceria de sua empresa com a Demonlover, produtora de animações pornográficas. Mas ela trabalha secretamente para outra corporação, para arruinar essas negociações. Já a Demonlover parece fachada para um site ilegal de tortura ao vivo. Ou talvez a verdade seja outra, mais secreta. Ninguém tem certeza, nem Assayas.

Lembra Em Boa Companhia (2004), de Paul Weitz, onde empresas são compradas e vendidas. Os personagens principais, simples funcionários, perdem e ganham empregos sem saber porquê. Não entendem nem estão no controle dos acontecimentos. Demonlover é igual, mas vai mais longe. Nenhum personagem entende o que está acontecendo. Nem o espectador. As inúmeras elipses ocultam explicações de roteiro. A história torna-se incompreensível e prevalece a lógica do pesadelo. Não estamos no território do consciente. Numa seqüência tensa, Nielsen mata uma concorrente mas acorda subitamente em seu quarto. Foi um sonho?

Desse modo questionamos as imagens de Demonlover... e fora dele. Quando alguém dentro do filme vê uma tortura ou um videogame, assimila essa imagem sem problema. Mas nós estamos vendo essas imagens. Como devemos reagir a elas? Nós é que devemos tomar posição diante da poluição visual de Demonlover. Pois Assayas não empurra respostas. Ele prefere as perguntas e as sensações. Sua câmera capta o espírito de cada ambiente. Comporta-se de acordo com o lugar. Tensa em salas de reuniões. Morta em hotéis. Quando chove o filme parece chorar. Já os espaços são filmados como não-lugares. Até os países visitados parecem iguais.

Estamos numa época em que fronteiras culturais caíram, pois as imagens são iguais para todos. Resta desorientação, a sensação de pertencer a lugar nenhum. A barreira entre pessoal e profissional também ruiu, como na relação entre Nielsen e um colega (Charles Berling). Mas momentos entre eles são raras demonstrações de afeto. Aí a câmera enfim relaxa. Afeto contrapondo desorientação, parece Encontros e Desencontros (2003) de Sofia Coppola. Mas o calor humano está sumindo. No fim de Demonlover o mundo torna-se um shopping center de imagens. Um lugar onde o consumidor é consumido. Cheque ou cartão?

27.01.2006 ___________________________________________________________

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sexta-feira, janeiro 27, 2006

FILME: As Loucuras de Dick e Jane


As Loucuras de Dick e Jane (Fun with Dick and Jane, 2005, de Dean Parisot) – ***

Comédia é gênero subestimado por críticos e até cinéfilos. Veja As Loucuras de Dick e Jane, estrelado por Jim Carrey em boa parceria com Téa Leoni. É fácil ignorar o subtexto corrosivo por trás das piadas ingênuas. Não é apenas sátira aos recentes escândalos corporativos nos EUA, como ouvi falar. Trata-se de como americanos fazem qualquer coisa para manter um alto padrão de vida. Incluindo o crime. O filme é dirigido por Dean Parisot, que emprega com talento humor físico – ações e tropeços inesperados dos personagens.

Carrey (com suas palhaçadas habituais) é Dick, executivo cujo chefe quebra a empresa ao aplicar um golpe milionário. Desempregado, ele descobre que ficou com o nome sujo no mercado, por isso não consegue outras oportunidades. Com a esposa Jane (Leoni) também desempregada, restam as dívidas. Numa piada muito divertida Dick e Jane tentam vender a televisão em segredo do filho. O casal também arranja serviços que americanos desprezam, como atendente de supermercado. Mesmo assim a dupla perde água e eletricidade. Essa queda social é engraçada, retratada com imagens significativas da ausência de móveis e sujeira na casa.

Na melhor piada do filme, Dick atinge o fundo do poço. Disputa trabalho com mexicanos (cidadãos americanos de segunda categoria). A seqüência é longa, imprevisível e com alfinetada política nos EUA. Quase dá para ouvir Dick gritar: "aceito tudo, menos ser mexicano!". Então para driblar o sistema injusto o casal passa a assaltar lojas. Estão seguindo exemplo de picaretas poderosos como o chefe de Dick. Vale tudo para ter televisão em casa!

Ou seja, na verdade As Loucuras de Dick e Jane critica essa ganância desenfreada da sociedade americana. É uma comédia ácida que – infelizmente – se dilui no terço final. As boas intenções predominam e o filme quer passar mensagem de esperança. Assim não tem graça. Felizmente a última cena (citando o escândalo Enron) indica que As Loucuras de Dick e Jane estão só no começo. Parisot engana o público com um falso final feliz. Faz sentido num filme sobre trapaças. ___________________________________________________________

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quarta-feira, janeiro 25, 2006

CHLOË SEVIGNY


Loira, estatura mediana (1,70m), olhos de esfinge e sorriso perverso – quando sorri. Essa aparência misteriosa pertence a uma das atrizes de carreira mais consistente de sua geração (nasceu em 1974). Escolhendo papéis sem levar em conta a remuneração, Chloë Sevigny alterna personagens discretos e polêmicos. Destaque para filmes francos sobre sexualidade, uma constante em sua carreira.

Antes disso, entretanto, teve uma juventudade comum na pequena cidade de Darien,Connecticut. Segundo suas palavras, as viagens da família para Nova York a impediram de tornar-se uma patricinha. Quando tinha 18, mudou-se para Nova York. Mesmo com pouco dinheiro e nenhuma moradia estável Sevigny freqüentava baladas e festas rave diariamente. As vezes passava dias e noites inteiras sem dormir. Foi descoberta como modelo, virando porta-voz fashion de sua tribo, mas diminuindo o ritmo de sua vida agitada.

Foi nessa época que Chloë conheceu o roteirista Harmony Korine, conseguindo seu primeiro papel no cinema. Foi uma adolescente com HIV no controverso Kids, escrito por Korine e dirigido por Larry Clark. Atuou em produções pequenas como o bobinho Crime em Palmetto e o simpático Os Últimos Embalos da Disco. Sua indicação ao Oscar (como coadjuvante) veio em 99, pelo surpreendente Meninos Não Choram. No filme ela interpreta Lana, a paixão de Brandon (Hilary Swank), uma garota que se passa por homem. Sabe-se que Chloë queria o papel de Brandon, o que levou a desentendimentos com Swank durante as filmagens.

Infelizmente isso parece confirmar sua reputação de temperamento difícil e invejosa, compensada pelo talento e dedicação. Aliás, essa versatilidade como atriz chamou a atenção de cineastas europeus e cults. Ela foi uma vítima em potencial do Psicopata Americano. Interpretou uma executiva no estranho e paranóico Espionagem na Rede (Demonlover) de Olivier Assayas. Além disso atuou em 2003 como uma moça mesquinha em Dogville, de Lars Von Trier.

Nesse mesmo ano teve participação decisiva em seu filme mais polêmico. The Brown Bunny é dirigido e estrelado por Vincent Gallo. Na cena-chave Sevigny faz sexo oral explícito em Gallo. O filme foi exibido pela primeira vez em Cannes, que era o paraíso dos cinéfilos tolerantes. O festival vomitou ofensas e piadas maldosas. Não quiseram entender ou aceitar o filme, rotulado como lixo e pronto. Goste ou não, The Brown Bunny é obra séria e pessoal sobre perda, tristeza e solidão. Chloë entendeu e entregou-se de corpo e alma.

Apesar do escândalo bobo, sua carreira não parece ter sido afetada. Apareceu em Melinda e Melinda, Manderlay e Flores Partidas. Atualmente leva uma vida tranqüila, morando tanto em sua cidade natal como Nova York. E felizmente novos papéis continuam a surgir. Os filmes em que Chloë Sevigny trabalha tem ao menos uma característica em comum: é impossível ficar indiferente a eles. Assim como ninguém fica impassível diante dessa bela fera.

Filmografia vista

Flores Partidas (Broken Flowers, 2005, de Jim Jarmusch) - ***
Manderlay (idem, 2005, de Lars Von Trier) - *
Melinda e Melinda (idem, 2005, de Woody Allen) - **
The Brown Bunny (idem, 2003, de Vincent Gallo) - ***
Dogville (idem, 2003, de Lars Von Trier) - ****
Espionagem na Rede (Demonlover, 2002, de Olivier Assayas) - ****
Psicopata Americano (American Psycho, 2000, de Mary Harron) - 0
O Mapa do Mundo (A Map of The World, 1999, de Scott Elliott) - **
Meninos Não Choram (Boys Don't Cry, 1999, de Kimberly Peirce) - ***
Os Últimos Embalos da Disco (The Last Days of Disco, 1998, de Whit Stillman) - **
Crime em Palmetto (Palmetto, 1998, de Volker Schlöndorff) - *___________________________________________________________

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FILME: Charlotte e Seu Namorado

Esta crítica foi a segunda lição de casa pedida pelo Francis no meu curso. Ele gostou mais dela do que meu texto anterior, O Posto de John Carpenter. Eu mesmo tenho minhas dúvidas, gosto bastante do texto anterior. Francis fez apenas a ressalva no meu exemplo sobre Howard Hawks. Afinal, nem tudo que Godard fala é ouro, ele sempre foi contraditório mesmo o tempo todo. De qualquer modo talvez eu devesse ter sido mais explícito nessa questão: só porque Godard disse, não significa que é lei.

Próxima lição de casa vai ser um texto mais longo, sobre Espionagem na Rede (Demonlover) de Olivier Assayas! Ainda não sei o que escrever. Fique mudo depois que o filme acabou. Na verdade a classe inteira ficou... A próxima Musa da Semana vai ser Chloë Sevigny, uma das estrelas de Demonlover. Aguardem.

Agora fiquem com a crítica. Ela está exatamente como a enviei por e-mail para o Francis, sem correções. Por isso também não tem cotação em estrelinhas (ou asteriscos no meu caso). Por favor, se tiverem elogios, dúvidas, sugestões ou reclamações (desde que construtivas) não deixam de dizer, beleza? Eu agradeço.

Charlotte e Seu Namorado (curta-metragem, Charlotte et son Jules, 1960, de Jean-Luc Godard)

por Bruno Amato Reame

No recente Nossa Música (2004) Jean-Luc Godard em pessoa critica cineastas (como Howard Hawks) que segundo ele filmam homens e mulheres de maneira igual. Ou seja, como se os dois sexos fossem uma coisa só. A julgar pelo curta-metragem Charlotte e Seu Namorado (1960), filmar a diferença entre macho e fêmea sempre foi uma das preocupações deste cineasta. O curta é estrelado por Jean-Paul Belmondo, astro de Acossado (1960), cujo personagem recebe a visita inesperada de Charlotte, ex-namorada que o abandonou há meses. Godard não tenta explicar estes dois e sua relação. Apenas registra o momento daquela situação absurda e engraçada.

O patético personagem de Belmondo só tagarela e gesticula sem parar, dizendo a Charlotte que dessa vez "não vai aceitá-la de volta". A montagem do curta é elétrica. Cortes rápidos acompanham o nervosismo de Belmondo e o novo namorado de Charlotte, esperando por ela do lado de fora do apartamento. E Charlotte? Permanece muda, surda e sorridente quase o tempo todo. A câmera respira aliviada sempre que a focaliza. Até a fotografia fica mais esbranquiçada. Seu rosto alegre lembra um palhaço de circo e a trilha sonora ajuda nessa impressão. Bem diferente do mau humor e insegurança de Belmondo. Para Godard, na eterna briga entre meninos e meninas, esta garota já venceu antes de começar.

18.01.2006 ___________________________________________________________

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terça-feira, janeiro 24, 2006

FILME: O Açougueiro


O Açougueiro (Le Boucher, 1970, de Claude Chabrol) – ****

Não entendo por que Chabrol é considerado o "Hitchcock francês". Seus filmes não são thrillers. Têm temáticas similares, verdade, mas a maneira como trabalha a câmera faz a diferença. As poucas cenas de suspense não têm a decupagem elaborada do mestre inglês. Também acho equivocado enquadrar suas obras no gênero "mistério". Em seu clássico O Açougueiro é fácil adivinhar quem está retalhando as jovens numa pequena cidade francesa. Mas isto não atrapalhou meu prazer em ver o filme pois não é o ponto principal.

Ao invés disso Chabrol prefere retratar um homem e uma mulher próximos, mas não envolvidos. Durante uma festa de casamento a câmera detetive do cineasta, com um zoom, nos aproxima do casal. Ela (Stéphane Audran) é professora da escola local. Ele (Jean Yanne) é o açougueiro. A professora é otimista, acredita na raça humana – mas não no amor, pois sofreu no passado. Romântico, o açougueiro não tem fé na humanidade. Como veterano de guerra sua postura parece compreensível. A certa altura ele oferece carne embrulhada como um buquê de rosas para a professora. Mas ela ainda não está pronta para uma relação.

Chabrol revela os sentimentos dessas pessoas machucadas por dentro usando apenas o cenário e a câmera. Assim um passeio numa caverna com desenhos milenares ressalta a herança do homem primitivo e bestial. Já a polícia investigando o caso é filmada como invasores da cidade (num toque subversivo, os moradores temem os policiais mais que o assassino). Mas nada supera a luz piscando no painel de um elevador no fim do filme. Representa tanto a luta de vida e morte de um personagem quanto os sentimentos vulcânicos de outro. Sentimentos impossíveis de dizer, mas que podem ser vistos e entendidos no cinema. Como Chabrol mostra tanto com tão pouco? Nas mãos de um mestre a câmera faz a diferença. ___________________________________________________________

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domingo, janeiro 22, 2006

FILME: A Dama de Honra


A Dama de Honra (La Demoiselle d'honneur, 2004, de Claude Chabrol) – ***

O último filme de Claude Chabrol a chegar nos cinemas brasileiros novamente é uma trama policial. Embora o crime seja obsessão para Chabrol, não espere grandes reviravoltas ou cenas taquicardiacas – isso não o interessa. A Dama de Honra, por exemplo, na verdade fala de paixão e loucura. Sentimentos que tragam todos como um buraco negro. Emoções fortes sem dúvida, mas mostradas de maneira um tanto fria e controlada, o que me parece o ponto fraco deste filme.

Chabrol, com sua câmera sutil e detalhista, começa examinando o cotidiano previsível de uma família de classe média baixa. O filho mais velho não aceita o afeto da mãe por um canalha aproveitador ou o casamento da irmã com um paspalho. Ele não entende pois não conhece nenhum amor além do busto de mulher feito de pedra no jardim de casa. Só entende a paixão quando conhece uma dama de honra (Laura Smet, fantasmagórica) no casamento. Seu amor de pedra vira carne e osso.

Chabrol a filma como mistério, medo e desejo encarnados. Tudo que nosso herói não encontra em sua vida familiar e seu emprego sem graça. A paixão entre ambos é fulminante e perigosa, especialmente depois dela pedir um assassinato como prova de amor. Por que ele nunca afasta-se dela, mesmo quanto tem chance? Porque Chabrol filma o amor (a paixão, o desejo) como um canto de sereia. E esta sereia em especial – a dama de honra – é ameaçadora, mas irresistível. Pois é muito melhor que a realidade. ___________________________________________________________

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sábado, janeiro 21, 2006

REFLEXÃO


"penso, logo existo"
Antes de dormir ontem fiquei deitado no sofá assistindo os últimos 40 minutos de Efeito Borboleta (The Butterfly Effect, 2004 de Eric Bress e J. Mackye Gruber). Não vi o filme inteiro, portanto isso não é uma crítica, são apenas pensamentos que tive. Efeito Borboleta é um filme parecido com Donnie Darko (idem, 2001, de Richard Kelly) em vários pontos. Ambos os filmes giram em torno de personagens com um aparente controle sobre a realidade ao seu redor. Em ambos o protagonista pode mudar essa realidade se assim quiser. Mas os dois filmes mostram como esse poder é ilusório, com conseqüências perigosas.

Além disso, Efeito Borboleta e Donnie Darko contam com uma atmosfera de estranheza. Mas no fundo achei os dois filmes bobinhos. Seus realizadores dão pistas e pistas, deixam tudo mastigado pro espectador não se perder. Incluem até fartas teorias pseudo-científicas para justificar tudo. No caso de Efeito Borboleta, supostamente inspirado na Teoria do Caos, as conseqüências das viagens no tempo seguem uma lógica de causa-efeito nada caótica. Exemplo: O herói quando criança perde os braços tentando impedir uma explosão. No futuro ele descobrirá que sua mãe está morrendo de câncer pois ela passou a fumar depois de seu acidente. E por aí vai.

Mais preocupante nos dois filmes, entretanto, é a idéia que o simples fato do personagem central existir é um erro terrível, pois sua existência apenas traz desgraça aos entes queridos. E como todo erro precisa ser corrigido, em nome de uma causa maior – o amor, o mundo e a pátria americana – o herói abdica da própria vida (Donnie Darko) ou da felicidade amorosa (Efeito Borboleta). Assim o mundo e a ordem estão salvos graças ao sacrifício dele. Ou seja, em ambos os filmes o protagonista na verdade não tem escolha, poder ou vontade. Não teve, tem ou terá chance de mudar seu destino. Eles - os heróis - não têm liberdade enfim.

Sei não, mas isso me soa fascista. Efeito Borboleta me parece um pouco melhor que Donnie Darko porque ao menos o protagonista luta mais para contornar esse determinismo. Porém, em ambos os filmes (supostamente deflagradores) fica a idéia de que são jornadas de personagens que sofrem sem redenção ou livre arbítrio.
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DIÁRIO

Ontem passei mal quase o dia todo. Não lembro de ter comido nada estranho ou estragado. Mesmo assim, após a refeição passei a sentir uma dor no estômago, que de incômoda cresceu até ficar horrível. Fiquei a tarde toda deitado. Eventualmente arranjei forças para tomar banho. Jantar nem pensar. Tomei três copos de leite de soja e deitei de novo. Aos poucos a sensação de nó enrijecendo minha barriga quase sumiu. Não quis arriscar e ao invés de ir a pé, preferi pegar um táxi para assistir a nova aula do Francis. Infelizmente o assunto daquela dia era de deixar qualquer cinéfilo saudável com azia: a Crítica Brasileira de Cinema.

Francis falou sobre os melhores críticos deste país mas também sobre os piores defeitos da crítica. Sem surpresa, voltei a ficar ruim. Minha barriga doeu tanto que quase não me levantei durante o intervalo. Uma colega assustada me emprestou um efervescente, que não teve efeito. Mas consegui ficar até o fim da aula. Na saída Francis e alguns colegas discutiam Amélie Poulain. Antes de ficar mal de verdade fui embora num táxi o mais depressa possível. Ao chegar em casa recebi a visita de meu cunhado – de passagem por São Paulo. Após ouvir a descrição de meus sintomas ele falou que minha irmã sentiu algo parecido tempos atrás. O médico dela recomendou regular as refeições.

Bem, depois disso eu fui dormir. Acordei hoje me sentindo muito melhor, quase 100%. Se algo assim acontecer outra vez com certeza irei ao médico. Mas por enquanto seguirei o conselho do meu cunhado. Não costumo comer porcaria, mas agora serei mais vigilante durante as refeições. Quanto ao cinema e o pensamento crítico eu continuarei a devorá-los com selvageria. ___________________________________________________________

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quinta-feira, janeiro 19, 2006

FILME: O Posto

Finalmente o Francis da Cineimperfeito avaliou minha "lição de casa" para a Oficina Crítica de Cinema - Teorias e Práticas. É uma crítica de O Posto, primeiro episódio do filme Trilogia do Terror, dirigido por John Carpenter. De modo geral Francis elogiou o fato de eu ter entendido a atmosfera do filme, o uso de espaço, a questão do ponto de vista e os problemas do filme. Mas também ressaltou que é melhor me afastar da objetividade jornalística e evitar textos em primeira pessoa (o que talvez seja um problema, pois gosto de escrever assim).

Estou publicando minha lição de casa exatamente como a enviei por e-mail para o Francis, sem correções. Se você tem algo a dizer sobre o texto, elogios, críticas, sugestões, etc, fique a vontade para comentar. Eu agradeço pois quero muito saber outros pontos de vista.

O Posto (episódio de Trilogia do Terror, Body Bags, 1993, episódio dirigido por John Carpenter)

por Bruno Amato Reame

Sou fã do diretor John Carpenter, mestre dos gêneros FC/Terror. Seus filmes geralmente são temperados com política, anarquia e desrespeito à autoridade. Ótimos elementos, infelizmente ausentes neste O Posto, primeiro episódio do longa Trilogia do Terror (Body Bags, 1993). Carpenter abre com imagem do posto de gasolina, único local iluminado no oceano preto da noite. O rádio informa: há um serial-killer nas redondezas. É a primeira noite da jovem Anne (Alex Datcher) como caixa do posto. Trabalhar sozinha de madrugada não é bacana, mas a garota (única negra do elenco branco masculino) precisa do dinheiro para a faculdade – discreto comentário racial/social/sexual de Carpenter.

O caixa fica dentro de uma cabine com porta lacrada e janelas (aparentemente) inquebráveis. A idéia de ficar fora deste bunker durante a noite realmente assusta. Dentro, a moça interage com clientes hostis que flertam com ela. Sua posição como voyer indefesa lembra Janela Indiscreta (1954) de Hitchcock. A câmera a acompanha em ações filmadas com poucos cortes, o que nos deixa cúmplices de sua fragilidade. Nesta parte o cineasta brinca bem com nossas expectativas – quando o assassino atacará? Mas este decepciona quando aparece. Segue um jogo de gato e rato rotineiro, especialmente vindo do diretor que anos atrás fez o superior Halloween (1978). A melhor cena é filmada dentro da cabine. O psicopata – de marreta na mão – põe fim às ilusões de segurança da jovem. Bem, pelo menos O Posto é divertido enquanto dura.

12.01.2006 ___________________________________________________________

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quarta-feira, janeiro 18, 2006

RACHEL McADAMS


Poucas pessoas sabem que esta atriz é canadense - nascida numa cidade pequena de Ontario em 1976. Na verdade poucas pessoas sabem quem é Rachel McAdams, uma situação que logo deve mudar. Filha de um caminhoneiro e uma enfermeira, Rachel quando criança competia em patinação no gelo. Mas logo decobriu sua vocação - o teatro. Aos 13 já estrelava adaptações de Shakespeare para colegas da escola. Segundo pessoas próximas o teatro ainda é sua paixão, independente da carreira no cinema.

Apesar do talento precoce, ela não sentia confiança em si mesma como atriz. Foi preciso incentivo de professores e familiares para escolher e se formar em teatro na York University. Foi uma decisão acertada pois ganhou prêmios e chamou a atenção em várias peças e filmes estudantis que participou neste período. Após a faculdade participou de outras peças e começou a estrelar alguns filmes canadenses (não, nenhum dirigido por David Cronenberg infelizmente), sem muita repercussão.

Numa decisão corajosa, decidiu se arriscar em Los Angeles, EUA. Ou simplesmente Hollywood. Deu certo - em termos. Conquistou rapidamente o principal papel feminino de Garota Veneno, onde contracena com o "comediante" Rob Schneider. No filme ela faz uma patricinha chata que troca de corpo com seu jardineiro e... bem todos têm que começar de algum lugar, certo? De fato, infelizmente quase todos os filmes que ela fez após este receberam pouco respeito de críticos e cinéfilos mais tradicionais. Uma pena porque alguns desses filmes são realmente muito bons! Entretanto, Rachel McAdams sempre passa incólume em qualquer produção que participa - prova incontestável de seu talento.

Seu segundo filme nos EUA foi Meninas Malvadas, outra vez no papel de uma patricinha malvada, odiosa e detestável. Um papel tão forte que roubou a atenção da protagonista do filme - Lindsay Lohan - um feito nada fácil, diga-se de passagem. Depois estrelou o subestimado Diário de Uma Paixão, romance choroso dos bons. Neste filme fez uma patricinha adorável, apaixonada por um sujeito bronco e pobre. No ano seguinte, em 2005, interpretou outra garota dos sonhos adorável, a filha de um senador conservador em Penetras Bons de Bico. Seu sorriso converte o cafajeste de bom coração vivido por Owen Wilson nesta ótima comédia grosseira, que fez um estrondoso sucesso de bilheteria.

Ainda no mesmo ano segurou as pontas do surpreendente Vôo Noturno, suspense dirigido por Wes Craven. Num papel e num filme bem diferente, ela convence o espectador o tempo todo como mulher forte (mas traumatizada) que desafia uma conspiração terrorista. Outro sucesso de bilheteria. Qualquer outra atriz aproveitaria para capitalizar este sucesso buscando novos papéis principais em produções de maior prestígio. Ela preferiu se contentar como coadjuvante no natalino Tudo em Família, recentemente lançado em nossos cinemas. Novamente rouba a cena outra vez no papel de uma garota venenosa que não dá sossego para a pobre Sarah Jessica Parker.

Apesar dos papéis parecidos, uma conferida atenta mostra a versatilidade desta surpreendente e míuda (1,65 m.) atriz. Ela se dá bem em qualquer gênero e consegue acrescentar sutilezas diferentes aos papéis, mesmo os aparentemente repetitivos, como o de patricinha por exemplo. A garota tem futuro, não tenha dúvida. Ela só precisa de um papel realmente desafiador, de preferência dirigida por um cineasta tarado e pervertido. Brian DePalma, cadê você?

Filmografia vista

Tudo em Família (The Family Stone, 2005, deThomas Bezucha) - **
Vôo Noturno (Red Eye, 2005, de Wes Craven) - ***
Penetras Bons de Bico (Wedding Crashers, 2005, de David Dobkin) - ***
Diário de Uma Paixão (The Notebook, 2004, de Nick Cassavetes) - ***
Meninas Malvadas (Mean Girls, 2004, de Mark Waters) - ** ___________________________________________________________

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terça-feira, janeiro 17, 2006

FILME: Elefante


Elefante (Elefant, 2003, de Gus Van Sant) - ****

Finalmente revi o filme que para mim foi o melhor visto em 2004. Na revisão Elefante não perdeu nada de seu frescor e relevância. Na época em que o vi pela primeira vez o impacto talvez tenha sido maior por não esperar nada de um cineasta que sempre considerei um picareta. Agora tenho uma certa obrigação de tentar ver os filmes mais antigos de Gus Van Sant, como Drugstore Cowboy e Garotos de Programa, com fama de serem realmente bons.

Elefante é inspirado no caso Columbine, quando dois garotos armados atiraram e mataram vários colegas e professores do colégio em que estudavam. Mas o filme não é de forma alguma uma reconstituição "baseada em fatos reais", como Hollywood gosta de nos empurrar todo ano. Van Sant preferiu uma abordagem seca, desdramatizada desses eventos, filmados com uma câmera que lembra ora Kubrock, ora Antonioni.

O filme é composto por diversos planos-sequência acompanhando as atividades diárias de alguns desses alunos minutos antes do tiroteio começar. A montagem também é não-linear, alternando eventos e as vezes mostrando outra vez uma cena, mas com o ponto de vista de outro personagem. Graças a recursos assim Vant Sant nos deixa em dúvida o tempo todo sobre o significado des cena cena ou daquele personagem. Por isso Elefante foi criticado na época por não ter um ponto de vista claro sobre o que aconteceu em Columbine, com uma mensagem do tipo "é a violência da TV" ou "foram os valentões do colégio". Mas essa é a força deste longa-metragem, que tanto pelas informações que revela como pelo que oculta de seus personagens nos força a pensar (eu sei, pensar dói no começo, mas depois passa) e a refletir sobre tudo que compõe o universo daquele colégio e o que pode ou não ter causado essa tragédia. Só que claro que nenhum de nós vai descobrir a solução mágica que impedirá novos Columbine. Mas estamos raciocinando e isso já é um começo.

Mas não vamos ser ingênuos. Gus Van Sant tem sim um ponto de vista sobre os acontecimentos em questão, ele apenas não os impõe pro espectador. De certa forma Elefante é a ferramenta que obriga o público a buscar seu próprio ponto de vista sobre o acontecimento. Revendo o filme penso que Elefante mostra que cada ser humano tem sua visão de mundo. Mas são muitas pessoas e muitas visões de mundo. Isso significa as vezes que essas visões se esbarram de maneira violenta. Outras vezes elas tem seus carinhosos pontos de contato, como uma menina beijando um garoto chorando ou pai e filho quase abraçados, aliviados de terem escapado com vida de uma tragédia.

Há muito mais a ser dito, mas basta no momento. Quem quiser ler mais sobre o que penso desse filme pode ler a crítica que escrevi pro Plano a Plano na época que vi o filme. Clique aqui. ___________________________________________________________

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DIÁRIO

Faz um tempão - tantos anos que nem tenho certeza de quantos - ganhei um cofrinho de presente de aniversário. Ele tem personagens Disney estampados (não riam, ganhei quando era criança). O cofre tem 10cm de altura, 12 de largura e 5 de profundidade. Não é muito grande como vocês podem comprovar. Desde que o tenho eu guardo TODAS as moedas que ganho, acho ou recebo de troco. Exceto quando tomo um lanche no McDonalds, quando minha culpa cristã entra em ação e sou obrigado a doar moedas de troco para crianças doentes (uma caixa azul no balcão).

Pois bem, vou colocando moedas e colocando e colocando. Quando o cofre está cheio até o topo eu troco as moedas por dinheiro com um comerciante que conheço e precisa delas como dinheiro trocado. Em geral pro cofre ficar cheio leva um período de 2 ou 3 meses. Hoje, por exemplo, troquei minhas moedas. O resultado ficou em R$112,00. Quem está rindo agora? É por isso que sempre sobra pra mim um dinheirinho pra comprar coisas como a reedição de Camelot 3000. E ainda resta bastante.

Cofre e dinheiro trocado. Uma idéia para você refletir... ___________________________________________________________

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GLOBO DE OURO 2006


Resisti ao sono bravamente. A cerimônia foi previsível e ganharam os favoritos mesmo. Até o chato John Williams ganhou pela bilionésima vez trilha sonora, dessa vez por Memórias de uma Gueixa (eu vi o trailer, é um filme sobre japoneses, estrelado por chineses, falado em inglês e dirigido por um americano - o mesmo que cometeu Chicago). Nas premiações de cinema fiquei surpreso apenas com as vencedoras Rachel Weisz (O Jardineiro Fiel) e Felicity Huffman (Transamerica). A boa notícia é que os vencedores parecem bons. Eu vi o trailer de Brokeback Mountain e, apesar de não curtir o cinema de Ang Lee, as imagens parecem promissoras. Brokeback Mountain, aliás, foi o "grande" vencedor da noite - com apenas 4 prêmios, Filme, Direção, Roteiro e Canção. No mais eu lamento a falta de prêmios de Marcas da Violência um dos (se não o mais) poderoso de todos os filmes de David Cronenberg - na minha opinião pelo menos.

Discurso mais engraçado da noite foi de Steve Carrell (O Virgem de 40 Anos), vencedor por Melhor Ator de Comédia pelo seriado de TV The Office. Ele agradeceu a esposa centenas de vezes. Na TV, os vencedores da noite foram LOST por série dramática (muito justo na minha opinião) e Desperate Housewives por comédia. Curiosamente, as 4 atrizes da série foram indicadas pra Melhor Atriz de Comédia, mas perderam pra Mary-Louise Parker (WEEDS).

Mulher mais bonita da noite pra mim foi Scarlett Johansson (veja foto). Já a normalmente linda Rachel Weisz parecia a noiva de Frankeinstein.

Veremos se esses prêmios vão se repetir no próximo Oscar - quando só então vou postar mais comentários tão fúteis como o que vocês acabaram de ler.

LISTA DOS VENCEDORES ___________________________________________________________

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segunda-feira, janeiro 16, 2006

FILMES: Impulsividade / Tudo em Família


OBS: Preciso adquirir o hábito de escrever sobre um filme logo que o vejo, pra ter um post por filme visto.

Impulsividade (Thumbsucker, 2005, de Mike Mills) - ***

Belíssimo filme de estréia do diretor Mike Mills (antes apenas tinha dirigido videoclipes). No começo a história é sobre um adolescente (a revelação Lou Taylor Pucci) que ainda não abandonou o hábito de chupar o dedão. Ele esconde o vício na escola, o que prejudica sua paixão por uma colega, enquanto os pais (Vincent D'Onofrio e Tilda Swinton, ambos excelentes) se revoltam. Mas rapidamente o filme se transforma e passa a ser mais que isso.

Enquanto tenta se livrar do hábito, o moleque enfrenta e passa por uma série de experiências típicas e não-tão-típicas da idade. Tem que aprender a lidar com os pais que ainda cultivam ilusões de juventudade (o pai é esportista aos 40, a mãe ainda sonha com um astro de novela) e com o irmão mais novo, um menino pequeno muito mais maduro do que ele próprio. Descobre as decepções amorosas e as drogas. Primeiro é receitado com remédios pra lidar com sua impulsividade, o que o torna um campeão em campeonatos escolares de debate (ou seja, droga aprovada pela sociedade, pois torna-o um vencedor). Depois fuma maconha, droga desaprovada pela sociedade pois é droga de perdedor.

Impulsividade é uma crônica dessa passagem de adolescente pra adulto feita com melancolia e beleza. Uma história sobre como não podemos controlar muitas coisas, seja uma namorada de escola ou o estranho hábito de chupar o dedão. Quando o garoto conversa com seus dentista (Keanu Reeves, ladrão de cenas) no fim do filme, eles meio que chegam a conclusão que a vida é isso mesmo: um filme meio estranho, onde as coisas acontecem sem causa-efeito. Assim é Impulsividade. Uma jóia.


Tudo em Família (The Family Stone, 2005, de Thomas Bezucha) - **

Prum filme natalino, até que é bom. Muito embora Tudo em Família chegue semanas atrasado no Brasil. Filmes de Natal e reencontro familiar são praticamente todos iguais, mas o diretor Bezucha até surpreende com o material. Sarah Jessica Parker vai conhecer pela primeira vez a numerosa família do noivo (por volta de 10 integrantes). Tímida e morrendo de vontade de ser aprovada, se torna vítima da família, como uma criança CDF solta numa classe de valentões. Destaque especial pruma garota maldosa (Rachel McAdams, ótima) e a mãe possessiva (Diane Keaton, grande presença).

No começo as piadas tem uma acidez incomum pra esse tipo de filme e até lembra vagamente o dinamarquês Festa de Família. Mas logo Tudo em Família vai se tornando mais conciliador, embora o diretor Bezucha evite o dramalhão na maior parte do tempo. No mais um filme que surpreende por não ser uma porcaria, mas que também podia ser bem melhor (não me entenda mal, eu gostei do filme, mas sinto que tinha um potencial maior). O elenco, todos excelentes, ajuda bastante. E, as vezes, Tudo em Família surpreende como cinema, com planos bem bonitos. Destaque especial pro último movimento de câmera. ___________________________________________________________

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domingo, janeiro 15, 2006

QUADRINHOS: WE3 - Instinto de Sobrevivência


WE3 - Instinto de Sobrevivência (WE3, 2004/2005, de Grant Morrison e Frank Quitely) - ****

O escocês roteirista de Quadrinhos Grant Morrison quase sempre consegue fazer trabalhos absurdamente geniais e exóticos, em cima de historinhas clássicas, fórmulas já consagradas. Ele consegue ser surreal e tradicional ao mesmo tempo, qualidade que divide fortemente opiniões dos leitores de HQs. Pessoalmente, acho o trabalho do homem (quase sempre) genial. Uma coisa legal neste WE3 - Instinto de Sobrevivência é que ele se juntou a um desenhista tão louco quanto ele, o também escocês Frank Quitely (antes trabalharam juntos em Novos X-Men). Com total liberdade criativa, o resultado só podia ser uma obra-prima. Acho difícil uma História em Quadrinhos melhor que essaser lançada em 2006.

WE3 é uma minissérie em três edições, originalmente publicada entre os anos de 2004 e 2005. Aqui no Brasil foi lançada pela Panini num volume só, uma edição quase perfeita (o trabalho de cores deixa um pouco a desejar neste volume brasileiro). A história beira o ridículo. O exército americano junto com cientistas criou três animais - um cão, um gato e um coelho - com armaduras cibernéticas, para usá-los como poderosas armas de guerra. O coelho é especialista em explosivos, o cão é um supertanque de guerra (incluindo misséis terra-ar e aparentemente munição infinita) e o gato é uma espécia de ninja assassino cibernético (veja a foto de novo).

No começo a missão deles é matar secretamente ditadores que os EUA não gostam. Porém quando o trio vai ser eliminado já que sua tecnologia está obsoleta comparada com outras bichos ciborgs sendo desenvolvidos eles se revoltam e escapam do laboratório. É uma longa sequência (6 páginas divididas em 18 quadrinhos cada) de desenhos fantásticos, onde cada quadrinho equivale a uma câmera de segurança do laboratório. Enquanto fogem são perseguidos por muitas ameaças diferentes, como o leitor vai descobrir. São cenas e cenas de ação de tirar o fôlego, tamanha é a segurança e inovação de Quitely na arte.

Mas também é uma história tocante de três animalzinhos perdidos e sem lar. Na verdade WE3 copia descaradamente a estrutura de todos aqueles filmes de animais (geralmente produções Disney) tentando voltar pra casa. Com a diferença que o trio nem sabe direito o que significa a palavra "casa". Ah, esqueci: graças a tecnologia das armaduras, os bichinhos sabem falar. Mas Morrison não comete o erro de tornar os animais muito inteligentes. Eles continuam animais que basicamente só se expressam em palavras simples: comida, bom/mau, perigo. Mas é incrível como apesar desse vocabulário limitado Morrison consegue dar voz, personalidade, humanidade e uma universalidade aos sentimentos de cada um deles. Muito embora o coelho seja o mais difícil de entender, já que é o menos inteligente dos três e o que mais tem dificuldade com as palavras. Só entendi algumas de suas ações ao longo da história relendo WE3 várias vezes. Mas não considero isso uma falha, pelo contrário, mas uma das muitas decisões acertadas de Morrison no roteiro.

O contrário ocorre com os personagens humanos, desenhados de forma desumana (você quase não vê os rostos deles) e seus diálogos são prolixos, vagos, ambiguos, cheios de segundas intenções. Morrison está do lado de seus animais e sua luta por liberdade, não tenham dúvida. Mas não cai no maniqueísmo: os militares se preocupam muito com a possibilidade de morte dos civis e perdas desnecessárias de soldados envolvidos na caçada.

Por fim, apesar de sua estrutura quase previsível (basicamente uma única cena de perseguição e luta com intervalos) WE3 - Instinto de Sobrevivência desenvolve com muita propriedade temas como direitos dos animais, perigos da tecnologia bélica, excessos da política americana no mundo, família e amizade. Enfim, uma História em Quadrinhos fantástica.

Para os curiosos, eis um link para uma outra crítica . E link para entrevista com Grant Morrison. ___________________________________________________________

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sexta-feira, janeiro 13, 2006

DIÁRIO

Ontem à noite eu e meu pai acompanhamos minha irmã e minha mãe para o aeroporto. As duas iam viajar para Portugal. Sacanagem comigo e meu pai né? Nem tanto, minha irmã foi a trabalho e só podia levar um acompanhante. De qualquer maneira, quando estava quase na hora delas entrarem na área internacional pra embarcar no vôo, minha irmã decidiu sair rapidamente do aeroporto para fumar um pouco. Fui junto com ela, conversando (obs: eu não fumo). Ficamos na frente de uma daquelas portas automáticas do aeroporto. Nem bem cinco minutos se passaram e um táxi parou na nossa frente. Desce um casal com malas. Para surpresa de minha irmã o casal era formado por dois professores de faculdade que ela não via há anos!

Abraços emocionados de reencontro, etc. Mas o casal estava com uma pressa tremenda porque o avião deles ia chegar logo. Antes de pegar suas malas e sair correndo para fazer o check-in o professor disse: "Puxa, que coincidência a gente se encontrar desse jeito e estarmos no mesmo vôo para Portugal!". E o casal foi embora. Minha irmã e eu nos entreolhamos. Nenhum de nós disse qual era o vôo dela, em que país ela ia ficar, etc... como ele sabia?

Antes eu achava possível que bruxas, fadas, duendes, discos voadores e paranormais existissem. Agora eu SEI que eles existem. ___________________________________________________________

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quinta-feira, janeiro 12, 2006

FILMES: Palavras de Amor / Soldado Anônimo / Suspeito Zero


OBS: No futuro vou colocar um filme só por tópico. Isso aqui é para cobrir o atraso.


Palavras de Amor (Bee Season, 2005, de Scott McGehee e David Siegel) - ***

Belo e subestimado filme de Scott McGehee e David Siegel que já nos deram o subestimado Até O Fim, estrelado por Tilda Swinton. Palavras de Amor segue a mesma temática desse filme: a família como grupo social em que cada membro sacrifica/oculta sua individualidade para preservar a união dos membros. Com destaque para o medo da figura paterna, que em Palavras de Amor é vivido por Richard Gere como um professor de "filosofia judaica", homem fanático e intolerante apesar das aparências. Sua família pira literalmente quando ele dedica atenção 24 horas por dia a filha pequena, que tem o "dom divino" de soletrar palavras. Enquanto mãe (Juliette Binoche) e filho mais velho buscam conforto espiritual em outros lugares, a menina vai vencendo campeonatos de soletrar. Gostei muito de Palavras de Amor, mas seria melhor se os diretores confiassem na imaginação do espectador e não apelassem para efeitos especiais sempre que a garotinha usa seu dom. O final do filme é legal, mas também podia ser menos previsível. Apesar desses poréns, um grande (e subestimado) filme.


Soldado Anônimo (Jarhead, 2005, de Sam Mendes) - *

Não há muito a dizer. Sam Mendes copia descaradamente a estrutura de Nascido Para Matar (treinamento militar/guerra). Exceto que a guerra nunca acontece, afinal estamos na Guerra do Golfo e a infantaria não é mais necessária graças à moderna tecnologia bélica. A melhor parte do filme é a primeira, o treinamento. Depois o filme tenta explorar a angústia dos soldados à espera de um tiroteio que nunca acontece. Mas Mendes está ocupado demais fazendo piadinhas e tornando a experiência daqueles soldados como pouco mais que um acampamento de colégio ou de escoteiros bagunceiros (sei disso porque já estive em um). Angústia zero, exceto numa ótima cena envolvendo uma missão para matar um oficial iraquiano a distância. Última observação: Mendes critica logo no começo Apocalypse Now por filmar a guerra com beleza, mas ele comete o mesmo "erro" o filme INTEIRO...


Suspeito Zero (Suspect Zero, 2004, de E. Elias Merhige) - **

Filme de serial-killer dirigido por David Lynch? Suspeito Zero parece isso. A trama é meio confusa, a atmosfera é intensa e estranha, o visual é inusitado em vários momentos
(ótima fotografia). Vi o filme na tv a cabo (exibido em janela incorreta, óbvio) após ler recomendação do Carlão no seu blog. Prende a atenção, embora o filme mal possa ser chamado de suspense, pois quase não há tensão. O retrato desglamorizado do(s) assassino(s) foge do padrão comercial do cinemão e isso é digno de nota. A ligação entre o policial herói e o personagem do Ben Kinsley podia ser melhor trabalhada. Última observação: merece uma revisão urgente (vi o filme de madrugada, com muito sono).

E por favor, alguém me explica o plano final desse filme. ___________________________________________________________

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DIÁRIO

Lição de casa do Francis: após exibir O Posto, episódio da Trilogia do Terror (Body Bags, 1993) de John Carpenter, ele pediu para escrever e enviar por e-mail um crítica de 1500 caracteres no máximo (dois parágrafos pequenos). Impressão que tive foi que boa parte da classe não gostou do filme - que de fato não é grande coisa - mas talvez pelos motivos errados. É, pelo visto Carpenter sempre será incompreendido. Já fiz minha lição de casa e após avaliação do Francis pretendo postá-la para os curiosos.

OBS: No futuro pretendo colocar coisas mais relevantes no tópico DIÁRIO, mas por enquanto minha vida tá tão devagar... ___________________________________________________________

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quarta-feira, janeiro 11, 2006

UMA THURMAN


Uma Karuna Thurman nasceu nos EUA em 1970. Filha de uma modelo sueca e um monge budista (!) era, acredite se quiser, considerada feia na escola. Por dois motivos: era sempre a maior da classe (atualmente mede 1,83 m.) e seus pés de canguru sempre chamaram a atenção. Evidentemente seus colegas de classe eram cegos e loucos.

Quando cresceu, essa beldade mudou-se para Nova York para tentar carreira de atriz. Lá foi descoberta como modelo também. Seu jeito de garota comum, sua ascendência européia e seu misto de inocência e sensualidade impulsionaram sua carreira em papéis como a deusa Vênus em As Aventuras do Barão Munchausen e, principalmente, como uma das vítimas dos jogos de sedução em Ligações Perigosas.

Em seguida fez filmes polêmicos como Henry e June, suspenses como Jennifer 8. Mas só explodiu mesmo em Pulp Fiction de Quentin Tarantino. Contracenou com John Travolta em uma das cenas mais marcantes do cinema nos anos 90: uma dança pra lá de erótica, apesar de sequer encostar o corpo em Travolta.

Depois fez bombas como Os Vingadores, Batman e Robin e filmes interessantes como Gattaca. Mas foi novamente pelas mãos de Quentin Tarantino que Uma Thurman fez seu melhor papel até hoje: a terrível Noiva, de Kill Bill Volume 1 e 2. Bom lembrar que o papel foi parcialmente criação dela também. Um papel completo: guerreira, assassina, amante rejeitada e mãe. O dois filmes exigiram dela desempenho físico em cenas de ação tanto quanto comédia e até algumas doses de canastrice bem empregadas.

Para os sonhadores, essa atriz linda voltou a ficar solteira. Seu casamento de longa data com Ethan Hawke, com quem teve dois filhos, acabou em 2004, após descobrir que ele estava de caso com uma modelo. Evidentemente ele também é cego e louco. Assim como nós cinéfilos (bom, pelo menos os homens) também somos loucos, mas por ela.

Filmografia vista

Os Produtores (The Producers, 2005, de Susan Stroman) - ***
Bee Cool (idem, 2005, de F. Gary Gray) - 0
Kill Bill - Volume 2 (idem, 2004, de Quentin Tarantino) - ****
Kill Bill - Volume 1 (idem, 2003, de Quentin Tarantino) - ****
Poucas e Boas (Sweet and Lowdown, 1999, de Woody Allen) - ***
Gattaca (idem, 1997, de Andrew Niccol) - **
Batman & Robin (idem, 1997, de Joel Schumacher) - 0
Pulp Fiction (idem, 1994, de Quentin Tarantino) - ****
Ligações Perigosas (Dangerous Liaisons, 1988, de Stephen Frears) - ****
As Aventuras do Barão Munchausen (The Adventures of Baron Munchausen, 1988, de Terry Gilliam) - ?, sei lá, mal lembro desse filme. ___________________________________________________________

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terça-feira, janeiro 10, 2006

FILMES: Os Produtores / Primavera Para Hitler


Os Produtores (The Producers, 2005, de Susan Stroman) - ***

Primavera Para Hitler (The Producers, 1968, de Mel Brooks) - **


Há momentos em que você tem que ser honesto consigo mesmo. Pois bem, eu gostei mais da refilmagem Os Produtores que da versão original Primavera Para Hitler. Aliás, nem sei se isso se qualifica como refilmagem, já que antes de mais nada Os Produtores é adaptação do musical da Broadway (inspirado no filme original, que não era um musical).

É verdade que o original tem momentos insuperáveis (e deve ter tido uma importância e impacto em sua época que o novo jamais conseguirá repetir). Talvez as cenas mais engraçadas de Primavera Para Hitler sejam com L.S.D. (Dick Shawn), o ator hippie escalado para viver Hitler na peça absurdamente ruim que os picaretas Max e Leo (Zero Mostel e Gene Wilder, respectivamente) produzem para fraudar seus investidores. Ademais, Wilder é muito melhor como Leo que Matthew Broderick na nova versão. Além disso, Os Produtores força a barra para dar um final feliz aos vigaristas, coisa que não acontecia no original.

Só que achei Primavera Para Hitler um filme muito envelhecido, talvez não no senso de humor, mas como cinema mesmo. Brooks tinha pouco jeito com a câmera na época e isso fica dolorosamente claro hoje. Não que Os Produtores seja perfeito. A diretora Stroman mostra pouca experiência com a câmera também. Na maior parte do tempo a câmera imita o ponto de vista de uma platéia no teatro (recurso que quando usado direito fica interessante, como no Crime Delicado do Beto Brant), o que parece preguiça dela e cansa as vezes.

Mas ela também mostra que sabe usar a largura da tela (formato é 2.35:1), num espetáculo visual muito bonito. Ademais, os números musicais e os diálogos são inspirados e muito engraçados. Nathan Lane é ótimo como Max e muitos coadjuvantes como Will Ferrell (o nazista autor da peça) e a deusa Uma Thurman (como a "atriz" Ulla) roubam a cena. Difícil até dizer qual número musical é o melhor. Eu me diverti pra caramba. ___________________________________________________________

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DIÁRIO

Ontem a noite eu tive a primeira aula do curso "Oficina Crítica de Cinema", ministrada por Francis Vogner dos Reis, editor da Cine Imperfeito. É difícil dar uma opinião ainda na primeira aula sobre o curso, mas parece promissor. Porém, posso estar desacostumado, mas gosto de aulas em que o professor usa recursos como powerpoint, por exemplo. E um microfone ajudava, já que a aula foi dada não numa pequena classe, mas num auditório para palestras. Outra coisa, mas não é culpa dele: detesto aluno que monopoliza a aula! Que chatice...

Momento engraçado da aula foi quando o Francis começou a comentar sobre escritores americanos dos anos 50 e como eles influenciaram o cinema da época. Imediatamente lembrei-o que On the Road, clássico de Jack Kerouac, vai ser dirigido por Walter Salles (talvez o picareta-mor do cinema tupiniquim). Eu tive a impressão que por meio segundo ele fez uma careta muito engraçada. Na verdade parecia que ele ia vomitar. Sei lá, deve ter sido só impressão minha. ___________________________________________________________

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segunda-feira, janeiro 09, 2006

APRESENTAÇÃO

Olá, seja bem-vindo ao Negativo Queimado, meu primeiro blog. Eu sou Bruno Amato Reame e quem me conhece sabe que amo o Cinema e adoro Livros e Quadrinhos. Criei esse blog porque um monte de amigos meus na rede têm um e me sentia excluído. Além disso gosto pra caramba de escrever e trocar idéias.

Por isso, dentro dos limites do possível vou tentar registrar aqui tudo que vi e li. Também pretendo escrever um pouco sobre minha vida sem necessariamente tornar isso aqui um blog de fofocas pessoais. Assim você lê sobre o que te interessa, mas também vai ler o que interessa a MIM. É uma troca justa não é?

Porém, devido a correria do dia-a-dia, não espere num primeiro momento textos longos como, por exemplo, grandes elocubrações críticas sobre Cinema. Isso vocês encontram no meu site, o Plano a Plano. O desafio é ainda maior, claro. Tenho que escrever algo relevante (mas descontraído) em poucas linhas.

Mais uma coisa: se você quiser trocar endereço de seu link ou seu blog é só pedir, beleza? Volte sempre! ___________________________________________________________

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