sábado, junho 23, 2007

Diário

No domingo passado, pela primeira vez visitei Armando, meu avô (paterno) no asilo. A experiência me deixou mais abalado do que esperava. Afinal, meu avô foi uma das pessoas mais gentis que conheci na vida. Anos atrás, sempre que visitava a casa dos meus avós em Guarulhos, ele aparecia bem-humorado e curioso pra saber o que se passava comigo. Adorava contar de histórias. A minha preferida é de quando ele conheceu um Saci. Armando ficava furioso se alguém duvidava que o episódio tinha acontecido. Por isso acredito nele até hoje. Contudo, nos últimos anos ele foi ficando mais fechado. Nas grandes reuniões familiares de ano-novo, meu avô preferia ficar quieto num canto.

Estava perdendo a visão e a lucidez. Deixou de reconhecer algumas pessoas, incluindo minha irmã mais velha – nessa época ele ainda me reconhecia. Hoje em dia nem isso, conforme constatei no último domingo. Ele está no asilo há poucos semanas: só recentemente foi diagnosticado com Alzheimer. Eu fui visitá-lo junto com meu pai, mas não sabíamos qual era o horário de visitas, por isso chegamos na hora errada. Ainda bem que os funcionários foram compreensivos e permitiram nossa visita.

Meu avô surgiu na sala de visitas levado por uma enfermeira, pois agora precisa de ajuda pra caminhar. Estava encurvado, mas feliz pela visita de um dos filhos, só não sabia com qual deles estava conversando. Também estava falante: conversou mais que nas últimas vezes que o vi. Porém, logo ficou claro que aquele não era o Armando que conhecia. Ele repetiu as mesma frases dezenas de vezes, incluindo que os joelhos ruins o impediam de trabalhar. Nós o consolamos dizendo que os médicos iam curá-lo e ele voltaria a trabalhar como antes.

Assim que a visita acabou, meu avô nos apresentou pruma enfermeira como “seus dois filhos”. Aí sentou-se pra assistir TV numa sala com várias pessoas iguais a ele. No caminho de volta, eu estava revoltado. A vida inteira dele tinha sumido quase completamente. Então no final duma longa vida não nos resta nada, nem as lembranças dos bons momentos? Não sei. Queria terminar esse texto com a mensagem que tirei disso tudo, mas não tenho nada pra dizer. Nada mesmo. ___________________________________________________________

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quarta-feira, junho 20, 2007

Diário

No sábado, eu fui numa sessão do Cineclube Equipe (clique aqui). Foi ótimo rever meus amigos Kim e Nina (responsáveis pelo Cineclube). Além disso, assisti pela primeira vez A Grande Jornada, de Raoul Walsh e Laura, de Otto Preminger e vi o debate com os críticos Cássio Starling Carlos e Filipe Furtado. Após o debate, quis conhecer pessoalmente o Filipe, que agora é praticamente meu patrão na Paisà. Conversei bastante com ele e com o Cássio, principalmente sobre séries de TV. Na saída do Cineclube, o Cássio foi muito gentil em oferecer pra mim e pro Filipe uma carona até a Avenida Paulista.

No carro a conversa continuou animada, mas o assunto mudou pro papel da crítica hoje. Apesar de ter sido um bate-papo descontraído, algumas questões pertinentes foram levantadas. Entre elas, como conseguir espaço pra escrever pro grande público sobre obras extravagantes como O Hospedeiro e a mini-série global A Pedra do Reino? Como fazer esse público ver e apreciar essas obras (ao invés de mandar cartas e e-mails furiosos)?

Infelizmente os três mosqueteiros não iriam achar as respostas num passeio de carro. Em compensação, eu percebi naquela conversa algo que sempre noto em discussões sobre a função da crítica. O Cássio e o Filipe podem discordar de minhas impressões, mas sempre fico com a impressão que críticos e cinéfilos (incluindo eu) concordam que a crítica parece ter perdido um reconhecimento maior em outros círculos além da própria crítica.

Tenho a sensação que há um muro no Brasil dividindo críticos, cinéfilos, espectadores e realizadores de cinema. Às vezes parece que tudo que a crítica diz e faz permanece (não necessariamente por culpa dela) do seu lado do muro, tendo importância apenas pros próprios críticos. Seria ótimo se pudéssemos levar a discussão sobre cinema a um público maior. Mas, pode ser só impressão minha, raramente vejo isso acontecendo atualmente.

Com isso não quero dizer que "a crítica de cinema está morrendo". Mas, se estivermos vivendo uma "era das trevas crítica", não há razão pra desespero. Por dois motivos. Primeiro, o mundo dá voltas e pode ser que daqui a 50 anos as coisas se invertam. Segundo, a crítica atual tem uma importância ainda maior que nos supostos "bons velhos tempos". Pois ela tem a obrigação de iluminar, pra hoje e pra amanhã, uma época escura e difícil. ___________________________________________________________

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sexta-feira, junho 15, 2007

Zodíaco

(David Fincher, 2007)

É nobre o esforço de David Fincher, conhecido pelos malabarismos visuais desnecessários, em amadurecer neste Zodíaco. Por exemplo, Fincher tenta filmar as cenas de assassinato com rigor e secura. Mas na hora H ele usa câmera lenta e sangue digital. Ainda bem que o filme não é sobre como o Zodíaco matou pessoas. É sobre como esse criminoso tornou-se um evento midiático. Fincher filma o funcionamento da mídia, sua reação aos crimes do Zodíaco. Ele não quer culpar a mídia por "estimular a violência" ou algo assim. Ele apenas mostra como esse processo induziu a população a uma tensão permanente, num discreto paralelo com a mídia atual e o terrorismo.

Contudo, muitas coisas soam falsas em Zodíaco, incluindo a maneira como a passagem de tempo é trabalhada. Pouco importa pros personagens se eles estão nos anos 60, 70 ou 80: o contexto dessas épocas jamais ganha vida e peso dramático – só mudam os detalhes da direção de arte e figurino. Falando nos personagens, policiais e jornalistas que investigaram o Zodíaco, seus dramas também parecem inconclusivos. O filme nos diz que a longa investigação obsessiva deles prejudicou suas vidas, mas nós somos vemos relances disso. É muito pouco. Ainda assim, apesar de seus problemas, Zodíaco é um passo promissor de Fincher rumo à maturidade.

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quarta-feira, junho 13, 2007

Piratas do Caribe - No fim do mundo

Ei, cadê a crítica?

Pois é, meu texto sobre o terceiro Piratas do Caribe foi uma colaboração para a Revista Paisà! A primeira de muitas, assim espero. Pra ler a crítica, clique aqui.

Quiz: Um desafio pra quem é fera. Na minha crítica eu escondi uma pequena (uma frase só) citação a um texto escrito por Rogério Sganzerla, relativamente fácil de achar pra ler. Vamos ver se você consegue descobrir qual é o texto... ___________________________________________________________

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domingo, junho 10, 2007

Jean-Claude Bernardet - Entrevista

Hoje o crítico faz 70 anos. Em sua homenagem, está sendo relançado pela Companhia das Letras seu livro Brasil em Tempo de Cinema, ensaio sobre o Cinema Novo feito em plena época do movimento. Leia a entrevista no Estadão (clique aqui) e visite o blog dele (clique aqui) e veja que ele ainda tem muito a dizer, principalmente sobre nosso cinema.
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Pela última vez...


Hoje, nos EUA, será transmitido Made in America, último episódio de Família Soprano, um dos maiores seriados já feitos. O penúltimo episódio, o chocante The Blue Comet, terminou com Tony Soprano sozinho, escondido num buraco qualquer, armado até os dentes e esperando o ataque final de seus inimigos. Mesmo assim, duvido que a série termine com Tony morrendo a la Scarface. Eu consigo ver o mundo que Tony conhece ruindo - de certa forma, isso já aconteceu em The Blue Comet - e imagino que haja alguma reflexão sobre a geração que vai herdar as ruínas desse mundo (Meadow, AJ e os mafiosos mais jovens que seguem Tony). Seja como for, certamente será um desfecho inesquecível. ___________________________________________________________

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sábado, junho 02, 2007

MAIO

Filmes no Cinema

Alpha Dog (Nick Cassavetes, 2006)
Um Crime de Mestre (Gregory Hoblit, 2007)
Eu Me Chamo Elisabeth (Jean-Pierre Améris, 2006)
Hércules 56 (Silvio Da-rin, 2006)
Homem-Aranha 3 (Sam Raimi, 2007)
O Hospedeiro (Bong Joon-ho, 2006)
Lady Vingança (Park Chan-wook, 2005)
Marcas da Vida (Andrea Arnold, 2006)

Filmes em Casa

Gerry (Gus Vant Sant, 2002)
Happy Feet (George Miller, 2006)
Sarah Silverman: Jesus Is Magic (Liam Lynch, 2005)
Sob Suspeita – Find Me Guilty (Sidney Lumet, 2006)

Melhor filme visto no cinema em Maio com certeza foi o coreano O Hospedeiro. Em casa, um desastre, apenas quatro filmes vistos. Mas agora que a maioria dos seriados que acompanho encerraram suas temporadas, esse número deve aumentar em Junho.
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