segunda-feira, agosto 25, 2008

O Grande Irmão nas Olimpíadas

Só pra que não digam que fiquei quieto sobre essas Olimpíadas, alguns comentários rápidos:

1- Tudo bem, qualquer cidadão razoavelmente bem informado ouviu falar da manipulação digital dos fogos-de-artifício e da dublagem da chinezinha durante a cerimônia de abertura das Olimpíadas. Além disso, todos sabemos do controle que a China exerce sobre a imprensa e da pouca liberdade de expressão que oferecem. E também temos consciência do quanto os Jogos Olímpicos poden ser uma plataforma para propaganda política internacional.

2- Durante estas Olimpíadas, boa parte da imprensa dos EUA - ao veicular o quadro de medalhas - mudou os critérios de classificação no ranking. Os países que ganharam mais medalhas no total ficaram na frente dos demais. É o contrário do critério mais aceito internacionalmente, que é o de maior número de medalhas de OURO ganhas. Com isto, pelo menos pra imprensa americana, os EUA é que se saíram melhor nestes Jogos Olímpicos, pois ganharam um número maior de medalhas que a China (que recebeu mais medalhas de ouro).

3- Pra imprensa brasileira, só deu Brasil nestas Olimpíadas. Nossas vitórias foram as mais espetaculares e nossas derrotas as mais trágicas. Alguém sabe me dizer de cabeça (sem consultar nada!) em quais modalidades a China ganhou medalhas de ouro?

Não se iludam. Em diferentes formas, em maior ou menor grau, o Grande Irmão está por toda parte. ___________________________________________________________

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sábado, agosto 23, 2008

Intervalo

Mais uma vez, peço paciência a vocês leitores. Sei que prometi que ia escrever pra caramba e, comparado com os últimos dois meses, cumpri mesmo essa promessa. Mas já faz alguns dias que não escrevo nada - e a maior vítima de minha inatividade certamente foi o bacana Encarnação do Demônio, que não merecia passar de jeito nenhum em branco. Acontece que no momento estou numa fase de transição, de mudanças pessoais, familiares, sentimentais, psicológicas, profissionais e familiares. Estou deixando pra trás antigos valores e elaborando novos objetivos pra minha vida, tanto a curto quanto longo prazo. E não estou exagerando, ou atirando frases prontas pra justificar uma fase depressiva (na verdade, apesar de triste com algumas coisas, não estou realmente deprimido). É que estava mesmo na hora de limpar a poeira que deixei acumular na minha vida. Escrever sobre cinema e escrever neste blogue ainda são coisas muito importantes pra mim - ainda que nem sempre isso fique evidente - e provavelmente continuarão sendo por um bom tempo. Mas diante de tudo isso que estou passando, escrever parece menor do que viver. Entretanto, não estou desistindo deste blogue ou dando férias a mim mesmo como blogueiro. Pretendo continuar postando sempre que tiver vontade e possibilidade. Apenas peço que vocês perdoem eventuais intervalos longos entre um post e outro. Ah, eu até posso ouvir vocês se perguntando "o que é isso que ele está vivendo?". Alguns dos meus amigos mais próximos sabem partes da história, mas não creio que nenhum saiba de tudo. Quando houver tempo e disposição, talvez eu escreva sobre tudo ou quase tudo aqui no blogue e vocês entenderão. Ou talvez não escreva nada a respeito e deixe vocês a ver navios. ___________________________________________________________

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Fantasmas do Século XX

O que estou escrevendo agora não é uma crítica. Pra começo de conversa, sequer li o livro inteiro. Além disso, faz muito tempo que não escrevo uma crítica literária aqui no blogue e, pelo que me lembro, não sou nada bom nisso. Mesmo assim, fiquem com minha recomendação: Fantasmas do Século XX é bom. Muito bom.

O autor é Joe Hill, filho de Stephen King, e o livro é composto de 17 contos, a maioria dos quais são de terror. A maioria dessas histórias são compostas pelos mais diversos clichês e arquétipos da literatura de horror, mas Hill sempre acha um meio de subvertê-los e contar algo realmente original. A mais subversiva que li por enquanto é a dum rito de iniciação pra tornar-se caçador de vampiros, que joga no lixo as convenções do gênero “jovem entra num ramo violento”. Já outras narrativas são especialmente inusitadas, incluindo uma homenagem divertida A Metamorfose do Kafka; e a triste história dum menino inflável.

Entretanto, o conto que bateu mais forte em mim – pelo menos em termos emocionais – foi Fantasma do Século XX (repare no singular). Conta a história dum velho e a relação que teve a vida toda, desde a infância, com o antigo cinema de rua do qual atualmente é proprietário. Mais importante, narra seu relacionamento – ainda que indireto – com o fantasma que assombra o lugar.

É o espírito duma moça cinéfila que, de tempos em tempos, aparece sentada ao lado de algum espectador incauto e solitário pra conversar sobre o filme que está passando na tela. Existe prova maior de amor pelo cinema do que passar a eternidade assistindo filmes? O desfecho da história – repleta de pequenas surpresas e citações – é lindo e assustador ao mesmo. Leitura obrigatória pra cinéfilos. ___________________________________________________________

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sábado, agosto 16, 2008

Momento Hitchcockiano

Ontem eu entrei pro seleto clube de cinéfilos que realmente viveram uma autêntica situação hitchcokiana. Quando eu estava voltando pra livraria acompanhado de duas colegas minhas, já no final do meu horário de jantar, fui atingido no lado direito do rosto por um pássaro voando a toda velocidade. Foi como uma pedrada – gritei de dor e segurei o rosto com as mãos (achei que sangrava, mas me enganei). A visão do olho direito ficou embaçada por vários minutos. O monstrinho responsável por meu sofrimento ficou pousado na calçada, me olhando. Minhas colegas, mais preocupadas com o sofrimento dele, tentaram pegá-lo pra ver se estava ferido. O malvado abriu suas asas e, ileso, levantou vôo. ___________________________________________________________

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domingo, agosto 10, 2008

Super-trailer

Atualmente estou profundamente insatisfeito com os recentes filmes de super-heróis. Tanto como cinema quanto adaptações de personagens que um dia foram muito importantes numa fase especial da minha vida (infância e adolescência). Por isso, fiquei surpreso comigo mesmo ao ficar empolgado no cinema com este trailer de Hellboy 2, dirigido por Guillermo del Toro. Afinal de contas, eu não tinha gostado do anterior (também pelas mãos de del Toro). Mas hoje em dia to com a impressão de que fui injusto e uma revisão desse filme é necessária. Enquanto isso, fiquem com o trailer!

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quinta-feira, agosto 07, 2008

Arquivo X - Eu Quero Acreditar

(Chris Carter, 2008)

Eu compreendo a decepção, juro. Anos depois da polêmica conclusão de Arquivo X na TV e o melhor que o criador do programa, Chris Carter, conseguiu fazer no cinema foi isto? Uma trama tão banal que – se fosse episódio do programa –a gente esquecia na semana seguinte? Uma trinca de vilões tão enfadonhos que quase não receberam diálogos? Mulder e Scully discutindo a mesma coisa pela milésima vez (mas, por mim, eu ouviria esse papo mais mil vezes)?

Diante dessas perguntas, eu proponho outra. Se o alvo de Eu Quero Acreditar não são as reviravoltas da investigação policial, os bandidos ou o casal principal, então qual é o verdadeiro foco deste filme? É o misterioso – tudo que está invisível aos personagens, mas palpável a eles e a nós nos belos espaços abertos filmados por Carter. É neste lugar abstrato e impenetrável que os personagens acreditam que está suas respostas. Têm fé, enfim. E fé, neste filme, é sinônimo de duas coisas: 1) amor; 2) crença na preservação da vida. O mais incrível é que a fé não é vista como positiva por si só. Ao contrário.

O que leva Mulder a resolver o caso é sua fé nada razoável de que um dia ele salvará sua irmã. Já um padre vidente garante tolamente que as vítimas dos bandidos estão vivas, mesmo diante das inabaláveis evidências contrárias. Enquanto isso, Scully crê que vale a pena preservar a vida dum garotinho doente. O que faz paralelo com os crimes hediondos dos assassinos pois, dum jeito distorcido, também são prova de amor: os homicídios são cometidos por um deles pra prolongar a vida do amante.

Por fim, o próprio Eu Quero Acreditar é uma manifestação de fé de Carter. De que ainda vale a pena preservar Mulder e Scully e contar histórias deles. A julgar pela gag genial sobre George W. Bush, a dupla é mais necessária do que nunca.

A eterna discussão desta dupla imortal:

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terça-feira, agosto 05, 2008

Encarnação do Crítico

Querem um exemplo do quanto o ofício da crítica é importante? Mesmo em doses pequenas? Isto aconteceu durante o intervalo do curso de história do cinema do Inácio Araújo. Um grupo de alunos no refeitório viu folhetos anunciando a estréia de Encarnação do Demônio, novo filme com o fantástico Zé do Caixão (José Mojica Marins, claro). Imediatamente ficou claro que ninguém ali - exceto eu - tinha visto filmes dele. As opiniões iam mais ou menos na linha do "não vi e não gostei" e/ou "nunca vi e não tenho interesse". Aí chegou minha vez de opinar.

Mencionei os - poucos - filmes que tinha visto deste criador incrível que é o Mojica. Falei sobre a contradição do Zé do Caixão ser um vilão de filmes de terror que nega o sobrenatural, mesmo sendo perseguido por fenômenos estranhos. Resumindo, não foi uma dissertação estética e dramática das mais elaboradas. Mas vocês deveriam ter visto a cara deles! Dava pra ler seus pensamentos: "Zé do Caixão é mais que um cara de unhas compridas?"

Foi quando o Inácio Araújo entrou pra tomar café e, mais por polidez que interesse, perguntou do que estávamos conversando. Eu respondi simplesmente que estava comentando o Mojica. Inácio rapidamente declarou ser fã do homem e que tinha ficado de joelhos pro Encarnação do Demônio. Meus colegas estavam boquiabertos. Mais telepatia: "Há uma chance deste colega doido ter razão e os filmes do Mojica serem legais?"

Obviamente, o que Inácio e eu fizemos dificilmente se qualifica como crítica de cinema. Pra ser sincero, tenho repulsa do culto que pode surgir (às vezes, sem intenção) à figura dum crítico, qualquer crítico. Algo do tipo "se o Inácio gostou a gente tem que gostar também". Mas plantamos a semente da dúvida no terreno da mesmice e das opiniões mastigadas. Já não é um bom começo? ___________________________________________________________

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sexta-feira, agosto 01, 2008

O Escafandro e a Borboleta

(Julian Schnabel, 2007)

Revista Paisà atualizada. Muitos textos legais. Marcelo Miranda desmistifica o oba-oba em cima de Wall-E, no que concordo, apesar de gostar mais do filme do que ele. Já o Francis explica porque é difícil escrever sobre um dos filmes mais bonitos da história do cinema: Contos da Lua Vaga, daquele que deve ser o maior cineasta japonês, Kenji Mizoguchi.

E quanto a mim? Na meu retorno pra Paisà depois de meses sem escrever, eu fiz uma crítica sobre O Escafandro e a Borboleta. Uma colega da Livraria gostou muito deste filme. Segundo ela, principalmente pelo diretor, que soube filmar um roteiro tedioso. Foi interessante ouvir a opinião dela porque pude constatar o quanto o diretor Julian Schnabel se destaca mais do que o próprio filme. Respeitosamente discordo dela, porque o roteirista Ronald Harwood e o ator Mathieu Amalric também são responsáveis pelas qualidades do filme. Pra ler minha crítica, onde levo essas questões em consideração, clique aqui.

As mulheres não são complicadas:

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JULHO

Salas de Cinema

Arquivo X - Eu Quero Acreditar (Chris Carter, 2008)
Batman - O Cavaleiro das Trevas (Christopher Nolan, 2008)
Era Uma Vez... (Breno Silveira, 2008)
O Escafandro e a Borboleta (Julian Schnabel, 2007)
Uma Garota Dividida em Dois (Claude Chabrol, 2007)
Hancock (Peter Berg, 2008)

Casa

Crepúsculo dos Deuses (Billy Wilder, 1950)
Ganga Bruta (Humberto Mauro, 1933)
Palavras ao Vento (Douglas Sirk, 1956)

Julho foi o mês do mestre Chabrol. Pena que não deu pra escrever sobre seu belo Uma Garota Dividida em Dois (pelo menos por enquanto). Aliás, este mês que passou não foi o grande retorno deste blogueiro, mas foi um ensaio nessa direção. Fique de olho, porque em Agosto este blogue estará a pleno vapor. ___________________________________________________________

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