terça-feira, julho 29, 2008

Era Uma Vez...

(Breno Silveira, 2008)

O primeiro filme de Breno Silveira, 2 Filhos de Francisco, comovia principalmente pelo artesanato eficaz e pela entrega dos atores. Era uma fábula sobre sucesso pontuada por momentos genuinamente emocionantes. Entretanto, a despretensão do relato confundia. Havia uma mensagem sobre o Brasil oculta naquela aparente simplicidade?

Bem, em Era Uma Vez fica clara a vontade de Breno em acrescentar à fábula um discurso sobre o Rio de Janeiro. O diretor divide a cidade em três espaços: 1) o morro e sua violência endêmica; 2) o asfalto e os preconceitos hipócritas das classes abastadas; 3) a praia como elo entre as piores e melhores tendências dessas realidades. As “melhores tendências” são representadas pelo casalzinho coração puro e cérebro de gelatina.

Nenhum deles deixa-se contaminar pela podridão do espaço que nasceram. E cada seqüência de Era Uma Vez apenas sublinha a santidade do casal em contraste com a falência moral do Rio. É um discurso simplista demais pro meu gosto mas eu estava respeitando a sinceridade do Breno. Pelo menos até a conclusão da fábula. É quando coincidências forjadas com mão pesada gritam que estamos todos condenados, evocando o cinema contemporâneo mais nefasto.

Estou falando de Iñárritu, Haggis e Todd Field, diretores que denunciam o mal-estar contemporâneo compactuando com ele. O mais curioso são os créditos finais. O ator Thiago Martins, morador duma favela da Zona Sul do Rio, deixa um recado emocionado sobre seu sucesso como ator. Mas a mensagem que ficou é que a solução do Rio consiste em fazer filmes sobre como o Rio não tem solução. Engraçado isso.

Trailer do filme:

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