terça-feira, agosto 05, 2008

Encarnação do Crítico

Querem um exemplo do quanto o ofício da crítica é importante? Mesmo em doses pequenas? Isto aconteceu durante o intervalo do curso de história do cinema do Inácio Araújo. Um grupo de alunos no refeitório viu folhetos anunciando a estréia de Encarnação do Demônio, novo filme com o fantástico Zé do Caixão (José Mojica Marins, claro). Imediatamente ficou claro que ninguém ali - exceto eu - tinha visto filmes dele. As opiniões iam mais ou menos na linha do "não vi e não gostei" e/ou "nunca vi e não tenho interesse". Aí chegou minha vez de opinar.

Mencionei os - poucos - filmes que tinha visto deste criador incrível que é o Mojica. Falei sobre a contradição do Zé do Caixão ser um vilão de filmes de terror que nega o sobrenatural, mesmo sendo perseguido por fenômenos estranhos. Resumindo, não foi uma dissertação estética e dramática das mais elaboradas. Mas vocês deveriam ter visto a cara deles! Dava pra ler seus pensamentos: "Zé do Caixão é mais que um cara de unhas compridas?"

Foi quando o Inácio Araújo entrou pra tomar café e, mais por polidez que interesse, perguntou do que estávamos conversando. Eu respondi simplesmente que estava comentando o Mojica. Inácio rapidamente declarou ser fã do homem e que tinha ficado de joelhos pro Encarnação do Demônio. Meus colegas estavam boquiabertos. Mais telepatia: "Há uma chance deste colega doido ter razão e os filmes do Mojica serem legais?"

Obviamente, o que Inácio e eu fizemos dificilmente se qualifica como crítica de cinema. Pra ser sincero, tenho repulsa do culto que pode surgir (às vezes, sem intenção) à figura dum crítico, qualquer crítico. Algo do tipo "se o Inácio gostou a gente tem que gostar também". Mas plantamos a semente da dúvida no terreno da mesmice e das opiniões mastigadas. Já não é um bom começo? ___________________________________________________________

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