sexta-feira, janeiro 27, 2006

FILME: As Loucuras de Dick e Jane


As Loucuras de Dick e Jane (Fun with Dick and Jane, 2005, de Dean Parisot) – ***

Comédia é gênero subestimado por críticos e até cinéfilos. Veja As Loucuras de Dick e Jane, estrelado por Jim Carrey em boa parceria com Téa Leoni. É fácil ignorar o subtexto corrosivo por trás das piadas ingênuas. Não é apenas sátira aos recentes escândalos corporativos nos EUA, como ouvi falar. Trata-se de como americanos fazem qualquer coisa para manter um alto padrão de vida. Incluindo o crime. O filme é dirigido por Dean Parisot, que emprega com talento humor físico – ações e tropeços inesperados dos personagens.

Carrey (com suas palhaçadas habituais) é Dick, executivo cujo chefe quebra a empresa ao aplicar um golpe milionário. Desempregado, ele descobre que ficou com o nome sujo no mercado, por isso não consegue outras oportunidades. Com a esposa Jane (Leoni) também desempregada, restam as dívidas. Numa piada muito divertida Dick e Jane tentam vender a televisão em segredo do filho. O casal também arranja serviços que americanos desprezam, como atendente de supermercado. Mesmo assim a dupla perde água e eletricidade. Essa queda social é engraçada, retratada com imagens significativas da ausência de móveis e sujeira na casa.

Na melhor piada do filme, Dick atinge o fundo do poço. Disputa trabalho com mexicanos (cidadãos americanos de segunda categoria). A seqüência é longa, imprevisível e com alfinetada política nos EUA. Quase dá para ouvir Dick gritar: "aceito tudo, menos ser mexicano!". Então para driblar o sistema injusto o casal passa a assaltar lojas. Estão seguindo exemplo de picaretas poderosos como o chefe de Dick. Vale tudo para ter televisão em casa!

Ou seja, na verdade As Loucuras de Dick e Jane critica essa ganância desenfreada da sociedade americana. É uma comédia ácida que – infelizmente – se dilui no terço final. As boas intenções predominam e o filme quer passar mensagem de esperança. Assim não tem graça. Felizmente a última cena (citando o escândalo Enron) indica que As Loucuras de Dick e Jane estão só no começo. Parisot engana o público com um falso final feliz. Faz sentido num filme sobre trapaças. ___________________________________________________________

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