sábado, janeiro 21, 2006

REFLEXÃO


"penso, logo existo"
Antes de dormir ontem fiquei deitado no sofá assistindo os últimos 40 minutos de Efeito Borboleta (The Butterfly Effect, 2004 de Eric Bress e J. Mackye Gruber). Não vi o filme inteiro, portanto isso não é uma crítica, são apenas pensamentos que tive. Efeito Borboleta é um filme parecido com Donnie Darko (idem, 2001, de Richard Kelly) em vários pontos. Ambos os filmes giram em torno de personagens com um aparente controle sobre a realidade ao seu redor. Em ambos o protagonista pode mudar essa realidade se assim quiser. Mas os dois filmes mostram como esse poder é ilusório, com conseqüências perigosas.

Além disso, Efeito Borboleta e Donnie Darko contam com uma atmosfera de estranheza. Mas no fundo achei os dois filmes bobinhos. Seus realizadores dão pistas e pistas, deixam tudo mastigado pro espectador não se perder. Incluem até fartas teorias pseudo-científicas para justificar tudo. No caso de Efeito Borboleta, supostamente inspirado na Teoria do Caos, as conseqüências das viagens no tempo seguem uma lógica de causa-efeito nada caótica. Exemplo: O herói quando criança perde os braços tentando impedir uma explosão. No futuro ele descobrirá que sua mãe está morrendo de câncer pois ela passou a fumar depois de seu acidente. E por aí vai.

Mais preocupante nos dois filmes, entretanto, é a idéia que o simples fato do personagem central existir é um erro terrível, pois sua existência apenas traz desgraça aos entes queridos. E como todo erro precisa ser corrigido, em nome de uma causa maior – o amor, o mundo e a pátria americana – o herói abdica da própria vida (Donnie Darko) ou da felicidade amorosa (Efeito Borboleta). Assim o mundo e a ordem estão salvos graças ao sacrifício dele. Ou seja, em ambos os filmes o protagonista na verdade não tem escolha, poder ou vontade. Não teve, tem ou terá chance de mudar seu destino. Eles - os heróis - não têm liberdade enfim.

Sei não, mas isso me soa fascista. Efeito Borboleta me parece um pouco melhor que Donnie Darko porque ao menos o protagonista luta mais para contornar esse determinismo. Porém, em ambos os filmes (supostamente deflagradores) fica a idéia de que são jornadas de personagens que sofrem sem redenção ou livre arbítrio.
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