(Naomi Kawase, 2008)
Hoje, na minha terapia, rolou uma discussão interessante sobre crítica de cinema. Minha psicoterapeuta disse que cinema é uma coisa muito subjetiva, ou melhor, projetiva. Resumindo, cada um enxerga o que quer quando vê um filme. Respondi que entendia o ponto de vista dela e que até certo ponto concordava. Na verdade, até houve uma época em que concordava inteiramente com ela.
Só acrescentei que hoje, pra mim, o importante numa crítica de cinema era perceber as evidências do filme e saber passar no texto o que o filme é (mais difícil do que parece, mas nem tanto assim). Aí sim, sempre partindo dessas evidências, fazer uma defesa dos princípios estéticos que o crítico acredita. E que as vezes nem o próprio crítico tem certeza de quais são. Aliás, acho que a cinefilia militante ao longo dos anos é que vai deixando claro pro próprio crítico quais são os valores dele. Desde que ele não transforme esses valores em dogma. Bom, como se vê, é uma discussão longa e cheia de pormenores.
O ponto em que quis chegar conversando com ela (e quero chegar neste texto) é este. A subjetividade existe, não adianta negá-la. Na verdade, não acho que ela seja inimiga da crítica de cinema. Só que ao se discutir cinema existe um risco de perdermos certas âncoras e transformarmos a crítica de cinema num jogo argumentativo onde ganha quem tem o melhor argumento. Não é de todo incomum ver até o melhor dos críticos usar argumentos fantásticos pra defender filmes nem tanto. Ou melhor, argumentos que tentam transformar o filme numa coisa que ele não é. Quem perde é o filme, porque mesmo se ele estiver sendo superelogiado, a crítica dele fica mais importante que o próprio filme.
Acredito que isso aconteça muito com certos tipos de cineastas, como Terrence Malick e agora Naomi Kawase (talvez por serem cineastas muito sensoriais). “Mesmo sem querer, querendo”, seus filmes encorajam críticas altamente subjetivas, impressionistas, apaixonadas. O que aliás, não é ruim, embora a unanimidade deste tipo de abordagem em casos assim me incomoda.
Veja o caso de A Floresta dos Lamentos da Kawase nesta Mostra SP. Muita gente que respeito profundamente considera o filme uma obra-prima. Outros tantos igualmente respeitáveis acham o filme apenas bom. Eu e mais alguns ficamos no meio do caminho entre estes pólos. O problema é que nos textos do primeiro grupo eu li muita paixão e impressionismo, mas pouca evidência que (mesmo discordando) me faça entender o que viram neste filme.
O que complica mais a situação neste caso é que os outros críticos e cinéfilos também não conseguiram expressar sua discordância satisfatoriamente. E eu me incluo nessa. Se você me perguntar agora porque A Floresta dos Lamentos é um grande filme, mas não uma obra-prima, não serei capaz de murmurar mais do que um “o filme tem momentos fortíssimos e outros nem tanto”. Pra ser mais elaborado que isso, só revendo o filme mesmo. O que de certa forma até depõe a favor do filme, mas certamente não do(s) crítico(s). ___________________________________________________________
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