FILME: Paradise Now
Paradise Now (idem, 2005, de Hany Abu-Assad) – ***
É difícil imaginar um homem-bomba sem apelar para estereótipo do terrorista irracional. Estereótipo, aliás, alimentado por parte do cinema americano. Por isso o palestino Paradise Now surpreende nos primeiros minutos. Os dois homens selecionados para explodir são pessoas comuns. Desprezam Israel mas não são fanáticos. Ofereceram-se para a missão mais por imaturidade que ideologia. Assim Paradise Now argumenta que no terrorista suicida a imposição cultural pesa mais que a decisão pessoal.
Mas diretor Hany Abu-Assad vai além de revelar com eficiência a mecânica do terrorismo. Ele constrói um suspense inquietante. Só com isso temos uma obra de interesse. Contudo, reviravolta na trama torna o filma mais significativo. Surge imprevisto que obriga dupla a adiar o ataque e repensar suas ações. Será que morrer matando inocentes vale a pena? Para nós a resposta é óbvia, mas entendemos a dúvida deles.
Pena que nesta parte Abu-Assad atrapalha-se um pouco. Ele tenta explicar a decisão final de ambos através de traumas infantis e diálogos artificiais com uma pacifista. O resultado até soa convincente, mas parece simplista. O problema pode estar numa das limitações do cinema: sua incapacidade de filmar o intangível. A câmera registra o mundo material – não alma ou pensamentos. Claro, há cineastas como Bergman e Tarkovsky que fizeram carreiras brilhantes filmando o infilmável.
Entretanto, o grande cinema geralmente mostra o mistério da mente humana sem revelar seus segredos. Vide Elefante (2003), sobre um tipo diferente de atentado suicida. Outra limitação do cinema é filmar a morte – o real significado de perecer e descobrir "o que vem depois". Pois Abu-Assad dribla essa restrição no magnífico plano final. É um plano perturbador que estende ao máximo a duração da vida. Depois, fade-out. ___________________________________________________________
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