quinta-feira, outubro 18, 2007

Tropa de Elite

(José Padilha, 2007)

Em teoria todo filme é capaz de gerar infinitas leituras sobre seus significados. Isso também é verdade no caso de Tropa de Elite mas, com algumas simplificações grosseiras, dá pra classificar as inúmeras interpretações possíveis do longa de José Padilha em duas categorias opostas: o filme é a favor do Bope ou é contra ele. Não vou dizer qual interpretação é "a verdadeira" porque duvido que seja possível afirmar isso sobre qualquer filme. Contudo, após a polêmica que precedeu seu lançamento, fiquei surpreso em descobrir quão fácil é enxergar Tropa de Elite como um retrato negativo ou cético do Bope.

Como exemplo, veja as seqüências de rotina e treinamento do batalhão, sugerindo que a tropa é uma seita com rituais que moldam a personalidade dos integrantes. Pense na cena em que Capitão Nascimento se livra dos ataques de pânico ao "interpretar" o oficial durão diante da esposa. Lembre também da trajetória de Matias. De policial pacato passa a torturar mulheres e crianças no terço final de Tropa de Elite. Aliás, nesse trecho fica evidente uma certa distância entre o discurso do filme e o dos personagens. Quando Matias completa sua transformação (ao apontar uma arma pro espectador), a narração em off deixa claro que a raiva desse policial está sendo usada pra servir os interesses de Nascimento.

Contudo, essa distância entre a voz do filme e a dos personagens talvez seja pequena demais. Por exemplo, é problemática a onisciência de Nascimento – que narra e comenta fatos sobre os quais não poderia ter conhecimento – pois torna sua visão de mundo mais fácil de ser confundida com o ponto de vista do filme em si. Além disso, o Bope pode até ser representado como uma instituição precária, mas as outras alternativas (ONGs, faculdade, polícia civil) são filmadas como impotentes ou corruptas.

Por último, ao fazer um filme de gênero com cenas de ação muito bem executadas, Padilha torna Tropa de Elite uma experiência frenética e empolgante. Saí do cinema com um misto de repulsa e euforia. Senti a mesma sensação preocupante quando vi o Ônibus 174 do Padilha. Porém, ao contrário daquele documentário, eu acho que essa confusão entre entretenimento e questionamento crítico ajuda – até certo ponto – a tornar Tropa de Elite um filme melhor. Torna-o mais ambíguo, despertando sentimentos contraditórios e debates importantes. Não seria esse o objetivo de todo grande filme? ___________________________________________________________

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