quinta-feira, maio 24, 2007

Hércules 56

(Silvio Da-rin, 2006)

Hércules 56 tem uma qualidade rara no atual cinema documentário: não tenta provar nada. Isto é, suas imagens não estão convenientemente organizadas pra comprovar as convicções de Silvio Da-rin. Claro que Silvio tem um ponto de vista sobre o que filmou. Porém, ao invés de impor uma mensagem, ele opta por abrir um diálogo com o espectador. Diálogo – este filme parte duma conversa de boteco com integrantes do grupo que seqüestrou o embaixador norte-americano Charles Elbrick em 1969. A ação visava desmoralizar a ditadura e libertar presos políticos do regime. Conversando, eles relembram as circunstâncias por trás do ato (mais políticas e históricas do que pessoais, limitando o poder dos depoimentos). Enquanto isso, Silvio intercala declarações isoladas dos presos libertados em troca do embaixador. Estes se recordam das angústias da prisão e as dúvidas da libertação e exílio.

Num país de memória curta, Silvio quer lembrar o passado. Mas não com saudosismo reacionário, nem com intenção de estabelecer uma versão oficial dos fatos. Trata-se de ouvir de cada participante sua opinião sobre os acontecimentos. Divergências surgem naturalmente. Por que decidiram agir? Teriam matado Elbrock se as exigências fossem negadas? Quem deveria ser libertado? O seqüestro teria valido a pena? Cada um tem sua resposta. Muitos deles acreditam que a ditadura aproveitou o ocorrido pra endurecer ainda mais. Mas o filme não condena a ação como ingênua nem como criminosa. Ela foi fruto de contextos históricos específicos (cujos integrantes não tinham bola de cristal). Entender esses contextos é o objetivo deste filme. Silvio evoca uma época de incertezas – filmadas como incertezas. Assim Hércules 56 nos permite tirar nossas conclusões.

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