terça-feira, maio 22, 2007

Alpha Dog

(Nick Cassavetes, 2006)

À primeira vista Alpha Dog seria um simplório alerta aos pais sobre jovens inconseqüentes. Nick Cassavetes não colabora pra desfazer essa impressão inicial. Seu filme começa com vídeos caseiros da infância inocente dos principais personagens e termina com Sharon Stone lamentando a morte do filho. O seqüestro dele por um rapaz traficante de classe média e seus amigos é o eixo da trama. Mas um olhar atento revela um filme de facetas mais complicadas. Aparentemente Nick culpa o comportamento dessa garotada em suas famílias. Afinal, quase todos os pais vistos aqui são traficantes e usuários de drogas como os filhos. Porém, Sharon faz uma mãe careta tão superprotetora que sufoca o filho. Quando o garoto é levado, ele sente-se mais livre do que nunca. Faz amizade com os seqüestradores e adota seu estilo de vida: baladas, drogas e garotas. É um estilo para o qual ele parecia estar caminhando antes do seqüestro. Então a equação "pais irresponsáveis = filhos idem" é furada.

Nick também aproveita que a "história real" por trás de Alpha Dog ocorreu em Hollywood pra comentar o impacto da indústria de entretenimento na juventude. Isso explica o casting acertado de celebridades como Sharon, Justin Timberlake e Bruce Willis. Repare que todos os personagens imitam comportamentos do cinema pulp e têm consciência disso. O neonazista de Ben Foster espanca meia dúzia de pessoas numa festa pra mandar recado pro Emile Hirsch. Por que fez isso? Porque funciona no cinema (não em Alpha Dog). Já o traficante de Emile espelha suas ações nos videoclipes violentos de rap que assiste. "Chega de clipes" (chega de ficção) é a frase que condena o refém à morte. O maior mérito de Nick é acreditar nesses personagens e suas decisões, mesmo as mais inverossímeis. Essa crença se reflete na entrega dos atores nas cenas mais difíceis (a perda da virgindade na piscina). Esse credo é o que torna Alpha Dog à segunda vista um filme intenso e nada simplório.


A briga de Ben Foster:

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