sábado, maio 19, 2007

A Ilha-pai e o DNA-mãe

Lost e Heroes são seriados parecidos. Ambos contam com um complexo painel de personagens interligados. Além disso, a família tem importância fundamental nos dois programas. Qual o significado dos papéis familiares nas duas séries? Basicamente ambas desconfiam da família (tradicional ou não).

Em Lost, por exemplo, todos os sobreviventes do vôo 815 foram marcados pela figura paterna – sempre castradora e nefasta. Existem "mães más", mas elas são menos traumáticas e numerosas. De certa forma, a Ilha é um outro pai, aprisionando os sobreviventes e os submetendo à novas experiências chocantes. A metáfora é explicita em Locke e Ben, que trocaram os respectivos pais pela Ilha –cultuada por eles como uma divindade.

Em Heroes, os heróis herdaram geneticamente seus poderes e o DNA serve como metáfora materna. Talvez porque as mães tenham uma ligação física (a gestação) mais evidente com os filhos. Aqui, a figura materna é fraca ou pouco confiável, enquanto os pais geralmente são fortes e nobres. Claire, por exemplo, é filha adotiva. Seus dois pais são mais importantes em sua vida (e no enredo da série) que suas duas mães. Aliás, seu pai biológico, Nathan, tem uma mãe que planeja uma explosão nuclear em Nova York...

Essas metáforas familiares ampliam seus significados quando associadas as questões cronológicas dos dois programas. Explico melhor. Lost é obcecado pelo passado, com seus flash-backs onipresentes e segredos enterrados na Ilha. Em Heroes, importa o futuro, pois as evoluções genéticas estão levando os heróis pra lá. Alguns são clarividentes e um deles até viajou prum amanhã sombrio.

Concluindo, os dois seriados questionam a família olhando em direções opostas. As angústias de seus protagonistas se encontram na pesada bagagem do passado ou na herança assustadora do futuro. O desafio de seus personagens é perceber isso e melhorar o presente.

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