segunda-feira, janeiro 15, 2007

Mais Estranho que a Ficção


(Marc Forster, 2006)

É o primeiro filme de Marc Forster que gosto, ainda que com sérias restrições. Ele parte de uma idéia que poderia estar num roteiro de Charlie Kaufman: um dia o solitário Harold Crick (Will Ferrell) passa a ouvir uma voz narrando sua vida, suas ações e pensamentos. Ele descobre que embora seja uma pessoa real, também é protagonista do novo livro que Kay (Emma Thompson), a narradora de sua vida, está escrevendo. Pior, ela planeja matá-lo no fim do livro.

Só que é triste ver como o estilo polêmico, mas único, de Kaufman é xerocado numa fórmula de cinema indie que corta suas ousadias e se contenta com lições de auto-ajuda previsíveis. Harold é o típico sonâmbulo que descobre a alegria de viver após se apaixonar por uma maluquinha rebelde (Maggie Gyllenhaal); Kay é deprimida e neurótica (e os apartamentos de ambos são vazios, refletindo suas vidas insignificantes. Zzzz...). Diabos, até o final trágico planejado pela escritora é clichê. E ganhou um brigadeiro quem adivinhou que o filme termina num monólogo sobre o valor da vida estar nas pequenas coisas.

Contudo, Marc Forster, quem diria, se mostra bom diretor de atores (eu nunca tinha gostado das interpretações em seus filmes anteriores). Isso não é nada desprezível. Estou falando de como os diálogos são saborosos, da cara de pau de Dustin Hoffman dando conselhos literários pro Will Ferrell, ou de como Ferrell me faz rir quando olha pruma escova de dentes, ou como ele e Gyllenhaal formam um casal tão inesperado quanto belo. É pouco, mas o bastante pra ser um filme agradável. Já é mais que Uma Noite no Museu.
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