segunda-feira, janeiro 01, 2007

OZ 6º temporada

(Tom Fontana, 2003)

Tobias(D) levará a melhor sobre Vernon...

OZ – A Vida é uma Prisão é um seriado que descobri no começo de 2006, no Cinemax Prime, canal que reprisou semanalmente a série inteira. O episódio final foi exibido na última quarta-feira antes do ano novo. Pra mim, a pergunta é inevitável: será OZ a melhor série de TV de todos os tempos? Eu nunca vi um seriado tão ousado esteticamente, tão perturbador, com protagonistas tão anti-convencionais (assassinos e estupradores com pouca ou nenhuma qualidade redendora) e um enredo tão complexo e surpreendente. Assistir OZ faz com que você perceba o quanto Prison Break é comum.

Como escrever uma crítica que faça justiça a última temporada, que concluiu este longo épico, repleto de personagens fantásticos e reviravoltas que incluem intrigas, estupros e assassinatos? Pego emprestado o monólogo inesquecível que o narrador da série, o prisioneiro Augustus Hill, usou pra fechar o episódio final:

"Então, o que nós aprendemos? Qual foi a lição de hoje, depois de incessantes dias e noites em OZ? Que a moralidade é efêmera? Que a virtude não pode existir sem violência? Que ser honesto é um defeito? Que dar e receber amor tanto nos rebaixa quanto nos eleva? Que Deus, Alá ou Jeová sabem responder perguntas que nós nem ousamos fazer? A história é simples. Um homem vive na cadeia e ele morre. Como ele morre, é fácil saber. Quem era ele e por que ele morreu é a parte complicada... a parte humana... é a única parte que vale a pena entender... Paz."

Assim, estas palavras lançam luz sobre as escolhas dramáticas do criador e roteirista Tom Fontana ao longo da série. Sempre que um personagem morre é porque alguma fragilidade pessoal dele (cobiça, honestidade, covardia, etc) o levou a isso. A morte em OZ sempre é injusta e dolorosa, mas nos mostra algo sobre nossa natureza humana. Talvez por isso a identificação seja tão forte com os assassinos e estupradores de OZ. Chegamos até a lamentar quando morrem.

Aliás, a morte pode ser tema principal da série, mas é na 6º temporada que isso é explicitado. Por exemplo, cada episódio (com exceção dos dois últimos) são narrados, não por Augustus Hill, mas por um prisioneiro já falecido na série. Além disso, esta é a temporada mais violenta, com maior número de fatalidades. Inúmeros personagens, incluindo alguns supostamente intocáveis, morrem muito antes do episódio final!

E é no último episódio que todas as diversas histórias são concluídas, incluindo as duas mais importantes: Ryan O’Reilly e sua paixão pela Dra Nathan; Tobias Beecher e sua guerra contra o neonazi Vernon Schillinger. Mas essas e outras histórias acabam em finais abertos. Por exemplo, um dos principais personagens termina com a possibilidade de ser enviado pro corredor da morte... ou não! Com isso, o desfecho de OZ se torna ainda mais realista e emocionante. Tom Fontana parece sugerir no episódio final que a vida numa prisão é um eterno recomeço, sem finais fáceis, felizes ou tristes.

Por isso, uma das cenas mais bonitas e significativas desta temporada é quando o prisioneiro Omar White pergunta a seu colega de cela, o suicida Lemuel Idzik, por que ele quer morrer. Então Idzik explica que um dia a luz no universo se extinguirá, seguida de toda a vida. Ou seja, o universo terá fim e nada do que fizermos até lá tem qualquer sentido ou importância, pois está condenado a desaparecer. Omar, homem violento e ignorante (parece ter descoberto agora que a Terra é redonda), surpreende pesquisando o universo na biblioteca. Mais tarde ele argumenta com Idzik que mesmo quando a luz acabar ainda restará a gravidade mantendo o universo inteiro. "E quem sabe, talvez fique melhor assim!".

Quem diria hein? Dois prisioneiros discutindo o cosmos e o destino da própria humanidade, divididos entre um pessimismo destruidor (Idzik) e uma esperança frágil (Omar). E no meio do caminho estão nós seres humanos, presidiários ou não. Que seriado maravilhoso eu tive o privilégio de conhecer ano passado.

...ou não?
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