domingo, dezembro 16, 2007

Encantada

(Kevin Lima, 2007)

"Sem nenhuma ironia!", alguém diz a Príncipe Edward quando ele fala (de fato, sem nenhuma ironia) que Gisele é a mulher de sua vida. Essa sinceridade é o ponto de partida das diversas qualidades de Encantada, merecido fenômeno de bilheteria da Disney. Se a trilogia Shrek se contentava em ser um catálogo de ironias fáceis e citações pop "espertas" (e, no fim das contas, reproduzia a fórmula daquilo que supostamente satirizava), Encantada emociona com sua crença absoluta no amor, nos contos de fada e no "felizes para sempre".

Tudo começa (ou "era uma vez") num reino encantado em que Gisele e Príncipe Edward são personagens de animação 2D. No dia do casamento deles, a madrasta de Edward expulsa Gisele para um lugar onde, segundo ela, não há finais felizes – Nova York. Gisele deixa de ser um desenho animado e ganha o corpo de Amy Adams, talvez a grande responsável pelo carisma irresistível do filme. Ela interpreta Gisele, sem nenhuma ironia, como alguém de fé inabalável no amor e na bondade humana.

Gisele esbarra na rua com um advogado (Patrick Dempsey) que serve como ponto de identificação pros espectadores. Ao menos aqueles que, assim como ele, inicialmente acharem a garota e o próprio filme duma grande tolice. Mas aos poucos ele vai amolecendo e entrando no jogo (idem pro espectador e pra este crítico). Talvez a seqüência musical no Central Park – um dos pontos altos do filme – seja a que melhor ilustra isso. Quando Gisele começa a cantar, as reações de Dempsey espelham o público cético. No começo ele torce o nariz prum número musical, depois debocha e no fim é flagrado pela câmera curtindo a canção.

Portanto, Encantada não tenta ridicularizar a idéia de um conto de fadas no mundo real. Ao contrário, a lógica de Gisele invade a "realidade". Ela cria números musicais e conversa com animais. Mas, ao mesmo tempo, descobre como é ser de carne e osso (só que esse aspecto do filme merecia uma outra crítica). Quando finalmente a madrasta malvada invade Nova York ninguém na platéia estranha sua aparição ou suas bruxarias. Ou seja, ao contrário da madrasta de Edward, o objetivo de Gisele/Encantada é fazer o espectador crer na magia do final feliz – seja com atores ou desenho animado. Com uma mulher como Amy Adams fica até fácil demais acreditar nisso.

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