sexta-feira, abril 28, 2006

DIVERSÃO GARANTIDA, UM ASSUNTO MUITO SÉRIO


Na edição 2 da revista Paisà há uma entrevista (obrigatória) com Inácio Araújo. O crítico, referindo-se aos geniais cineastas Carpenter e Romero, faz uma afirmação brilhante. Ele diz que "eles não fazem o filme que o espectador quer, mas adivinham o que o espectador quer ver". Agora eu pergunto: essa frase fantástica pode ou não ser usada emprestada para definir o ótimo O Plano Perfeito de Spike Lee?

Não quero fazer uma comparação simplória com Carpenter e Romero. Claro, O Plano Perfeito é cinema de gênero com subtexto político (definição que abrange praticamente tudo dos outros dois). Porém, quero chamar atenção para outra questão. Muitos críticos falaram que O Plano Perfeito, apesar de ser cinema comercial, é um ótimo Lee. Até concordo. Estão presentes temas familiares do cineasta, como racismo e o trauma do 11 de setembro (A Última Noite). Aliás, levando em conta o último fator, é emblemática a cena em que a polícia atira nos reféns. Contudo, não lembro de nenhum crítico comentar que O Plano Perfeito é excelente naquilo que se propõe ser: entretenimento.

Estou falando de como a câmera aparentemente desleixada sempre encontra o enquadramento certo para passar a emoção de cada cena. Ou da decupagem quase perfeita e da narrativa que vai e volta no tempo, brincando com as reviravoltas da história. Sem esquecer os personagens (tipos novaiorquinos fascinantes) e seus diálogos saborosos. Aliás, o filme é tão engraçado que quase se transforma numa paródia dos filmes de assalto.

Sim, O Plano Perfeito cumpre a tabela dos filmes de assalto (os clichês, as pegadinhas de roteiro, etc). Mas nas entrelinhas ele cria, inventa, sabota o gênero ao qual pertence. Enfim, Lee fez "um filme que o espectador quer ver", mas não do jeito que ele está acostumado a ver. Claro que mencionar em críticas o subtexto político de Lee é importantíssimo. Mas por que os críticos esqueceram de dizer o quanto o filme é divertido? Os elementos cinematográficos que o tornam diversão garantida podem até ser fáceis de discutir numa crítica. Mas isso não os torna menos charmosos e importantes.

O Plano Perfeito (Spike Lee, 2006) = 8 ___________________________________________________________

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