segunda-feira, fevereiro 27, 2006

FILME: Capote


Capote (idem, 2005, de Bennett Miller) - ***

A obra-prima do escritor Truman Capote é A Sangue Frio. O livro, misturando jornalismo e literatura, fala de um crime. O assassinato de uma família – pai, mãe, dois filhos – numa cidade pequena em 1959. Nos seis anos seguintes Capote escreveu sobre a investigação, prisão e execução dos dois assassinos. Essa trajetória é mostrada (com buracos infelizes) neste filme, que discute problemas morais da criação artística.

A arte não inventou a violência, explica a seqüência de abertura (descoberta das vítimas). Depois do horror entram em cena a arte e o artista. Capote (Philip Seymour Hoffman), ao saber da atrocidade, viaja para a cidadezinha. Os habitantes locais estranham sua presença porque Capote é gay assumido, efeminado e intelectual pedante. Enfim, um alienígena no interior americano. Infelizmente esse choque cultural é brevemente explorado pelo diretor Bennett Miller. Lamentável, pois rende ótimos momentos devido a Hoffman.

Sobre este ator não basta um adjetivo. É preciso recorrer a Godard, que definiu seu Acossado (1960) como documentário sobre Jean-Paul Belmondo. Igualmente Capote é documentário sobre Hoffman. Sua interpretação – cada sutileza dela – é registrada pela câmera de Miller. O cineasta concentra-se no corpo e no rosto de Hoffman. O ator mostra cena a cena a transformação emocional de Capote ao escrever A Sangue Frio.

O livro precisa de depoimentos - conseguidos com mentiras e subornos. Capote até faz amizade com um dos assassinos, para abandoná-lo mais tarde conforme necessidades do livro. A obra é terminada ao custo da integridade do autor. Porém, Capote é humano, sendo destruído pela culpa. Essa troca valeu a pena? Isso o espectador decide. Contudo, ver essa tragédia vivida por Philip Seymour Hoffman é algo especial. ___________________________________________________________

Marcadores: , ,