sábado, março 10, 2007

Vênus

(Roger Michell, 2006)

Vênus é um filme sobre a velhice enquanto decomposição da carne. Aqui, a carne pertence a Maurice (Peter O'Toole), outrora um ator renomado; hoje alguém de saúde frágil que sobrevive interpretando vovôs moribundos. Sua vida muda quando conhece Jessie (Jodie Whittaker), a sobrinha-neta adolescente de um amigo seu. Seu tesão por ela é imediato.

Pois este é um filme sobre corpos e desejos físicos, sem espaço para ilusões românticas. Afinal, Jesse é pouco mais que uma aborrescente típica, enquanto Maurice afirma pra ela que é impotente, o que "não o impede de ter um interesse teórico" nela. Impotência então, em todos os seus sentidos, talvez seja a palavra-chave de Vênus. Ele não pode possuir o corpo dela e mal tem força pra andar ou atuar.

São inúmeros os planos e cenas que ressaltam a fragilidade de Maurice; ao ponto em que se tornam gratuitos porque redundantes e mal encaixados na narrativa. O filme se sai melhor nos poucos momentos em que Maurice ri de si mesmo, de sua velhice e de sua mal-humorada discípula. Vênus não deixa de pertencer ao gênero "professor-aluno", embora o processo de aprendizado de Jesse seja pobremente desenvolvido.

Então este simpático longa-metragem de Roger Michell deve muito a seu elenco e a momentos inspirados de graça ou sedução. Pena que Vênus seja irregular no todo, contando com cenas grosseiras como aquela em que Maurice enfrenta o namorado besta de Jesse.

No fim, Maurice morre. Uma garçonete olha uma foto antiga dele no jornal e repara o quanto ele era bonitão. Jesse decide usar o corpo como modelo para outros artistas. A arte como forma de preservar corpos e trapacear a morte. Vênus podia ter sido uma série de risadas maliciosas diante da morte, mas prefere lamentar o fim inevitável. E isso é muito chato.
___________________________________________________________

Marcadores: , ,