sexta-feira, agosto 18, 2006

Oz – A Vida é uma Prisão


Filmes sobre prisões geralmente são aventuras sobre rebelião ou fuga, incluindo Um Sonho de Liberdade. Nada contra. Mas não lembro de nenhum bom filme apenas sobre a vida na prisão. Mesmo na tv, Prison Break diverte mostrando um mirabolante plano de fuga. Contudo, o seriado Oz – A Vida é uma Prisão foi sensacional ao mostrar o dia a dia num presídio. Oz foi a primeira série produzida pela HBO, estreando em 1997. Durou seis temporadas, quase todas de oito episódios. Atualmente está sendo reprisada no Cinemax. Veja, pois é clássica e merece ser redescoberta.

Seu criador foi Tom Fontana, que escreveu sozinho o roteiro de quase todos os episódios. Pioneiro na tv a cabo, ele criou um seriado adulto, violento, profano e desconcertante. O programa era ousado esteticamente, usando linguagem única na televisão. Por exemplo, efeitos sonoros (lembrando bolinha de gude caindo no chão) complementavam os atores de modo quase experimental.

Cada episódio de 60 minutos era narrado pelo prisioneiro Augustus Hill (Harold Perrineau, Michael em LOST). Ele interrompia o episódio várias vezes, aparecendo num fundo preto e falando diretamente com o espectador. Cada episódio Hill falava sobre um assunto diferente: política, ecologia, religião, ética, esportes, sexo, etc. Essa narração se referia aos acontecimentos naquele episódio de maneira abstrata e nada óbvia.

Além disso, a narrativa era pouco convencional. Não havia protagonista ou enredo principal. Oz tinha elenco gigante e reciclável (pelo menos uma morte por episódio). Os episódios eram compostos por historietas de cinco minutos – com início, meio e final surpresa. Quase toda a ação acontecia em Emerald City, ala de reabilitação e segurança máxima de Oz. Nessa ala havia um precário equilíbrio de raças, credos e facções criminosas.

Nesse lugar acontecia todo tipo de histórias. Amor, humor (negro), religião, crime, vingança, ódio, injustiça, rebeldia, culpa, amizade. E horror acima de tudo. Acho que fãs de horror e cinema extremo iriam amar Oz. A série mostrou formas criativas de estupro, assassinato, suicídio e tortura. Além disso, Oz era niilista e amoral, não pregando qualquer mensagem, otimista ou pessimista. Muitas vezes um “herói”, para pegar o “vilão”, tinha que matar ou prejudicar inocentes. E geralmente fazia isso sem dor na consciência!

Outra coisa, a série evitava psicologia, deixando ambíguos os motivos dos personagens. Mais importante, Oz não queria explicar origens da violência. Inclusive muitos episódios satirizavam as tentativas de entender comportamento criminoso. Por isso, liberais (“desigualdade social!”) sentem-se atingidos. Reacionários (“paredão neles!”) também, pois mesmo os piores prisioneiros tinham momentos de humanidade. Já os funcionários de Oz podiam ser cruéis. Talvez esse seja o legado de Oz: grandes atores e personagens extremos e inesquecíveis.

O próximo post será sobre os maravilhosos (?) personagens de Oz.

Oz – A vida é uma prisão – (Tom Fontana, 1997 a 2003) = não vi a quinta e sexta temporada. Teria que rever as outras pra ter certeza, mas as notas provavelmente estarão perto de 10.
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