quarta-feira, abril 23, 2008

Rolling Stones - Shine a Light

(Martin Scorsese, 2008)

Às vezes, um argumento simplista é repetido exaustivamente até se tornar a única maneira de entender um filme. Por exemplo, eu tinha lido por aí que Shine a Light parece extra de DVD. Recentemente, uma colega do curso de cinema do Inácio Araújo disse que não ia ver o documentário pelo mesmo motivo. É uma coisa contagiosa.

E perigosa, porque esse argumento ataca o longa por suas características mais evidentes: de fato, Shine a Light é composto quase exclusivamente pelas filmagens de duas noites de show no Beacon Theatre (NY), intercaladas por pouquíssimas cenas de bastidores e entrevistas antigas da banda. Mas essa argumentação ignora as intenções por trás disso.

Martin Scorsese na verdade fez um belo trabalho sobre como é contrariar expectativas do showbiz ao continuar ativo após décadas (um sentimento que Scorsese certamente compreende). A simples presença da família Clinton no show marca o quanto os Stones são hoje, para o bem e para o mal, um monumento aceito por um público mais amplo e careta. Entretanto, o que realmente interessa ao cineasta é nos fazer sentir durante um show toda a energia que impulsionou e ainda impulsiona os Rolling Stones.

Pra conseguir isso, Scorsese espalhou muitas e muitas câmeras pelo Beacon Theatre com duas metas em mente: 1) ignorar quase totalmente as reações do público (o que talvez explique uma certa frieza do filme); 2) conseguir imagens inacreditáveis dos Rolling Stones. Inacreditáveis, seja pela extensão com que um plano permanece em um único integrante da banda pra melhor admirarmos sua performance, seja pelos close-ups de rostos cansados, sorrisos inesperados e, no fim, as caras de satisfação deles por terem se superado outra vez. Isso sim é contagiante.

Marcadores: , , ,