segunda-feira, novembro 20, 2006

OUTUBRO (filmes vistos no cinema)


O melhor filme do mês está em negrito.

Dália Negra (Brian De Palma, 2006) = 8,5

Esqueci de postar os filmes visto em outubro. Pra minha surpresa o único filme visto neste mês fora da Mostra foi Dália Negra. Que bom então que trata-se de um filmaço (está entre os cinco melhores do ano). Recentemente li a obra de James Ellroy: é uma ótima leitura, mas não o clássico literário que tanto repetiram. Contudo, ler Dália Negra lançou uma luz sobre um dos aspectos mais polêmicos da adaptação cinematográfica - a suposta semelhança física entre Madeleine/Elisabeth (Hilary Swank/Mia Kirshner no filme), uma das pistas do enredo.

Na blogosfera muita gente (incluindo fãs do livro) criticaram a escolha do elenco, Swank não seria nada parecida com Kirshner, o que prejudicaria o filme. Entretanto, no livro Ellroy claramente estabelece que Madeleine e Elisabeth são apenas ligeiramente parecidas. O primeiro a notar isso, se não me engano, é Dwight, que descreve a semelhança entre elas como frágil. Claro que conceitos como "ligeiramente" e "frágil" são muito subjetivos, mas continuemos.

A tal semelhança entre elas é reforçada através das atitudes dos personagens: Dwight fica cada vez mais obcecado por Elisabeth (e a partir daí passa a vê-la em Madeleine), Madeleine se veste e se maquia como Elisabeth e Kay denuncia a "semelhança" entre ambas após descobrir o caso entre ela e Dwight (e após vê-la vestida como Elisabeth, se minha memória estiver certa). Ou seja, tal semelhança é mais construída na mente dos personagens do que algo que se nota imediatamente.

Minha opinião é que os fãs do livro se identificaram tanto com Dwight (o protagonista, o romance é na primeira pessoa) que mergulharam junto com ele em suas obsessões e impressões subjetivas. E passaram a crer que Madeleine e Elisabeth eram gêmeas separadas ao nascer. Daí a decepção ao ver no filme duas atrizes pouco ou nada parecidas.

Quanto a quem não leu Dália Negra e mesmo assim sentiu falta dessa semelhança tenho duas possibilidades: familiaridade com clichês cinematográficos e/ou da filmografia do De Palma (cujo carreira é repleta de duplos e dublês); ou "a semelhança psicológica" entre elas é um aspecto do romance que foi perdido (o que é discutível) na tela grande. Mesmo que seja a segunda opção não acho que isso diminua Dália Negra enquanto cinema.

E algo me diz que essa polêmica foi intencional do mestre De Palma, que deve ter se divertido muito recebendo essas reações negativas... ___________________________________________________________

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