terça-feira, fevereiro 20, 2007

A Rainha

(Stephen Frears, 2006)

Interpretar um filme pode ser muito difícil. Não há manuais ensinando como entender corretamente a "mensagem secreta" deixada por um cineasta. A Rainha, por exemplo, tem recebido interpretações contraditórias, especialmente sobre suas posições políticas. É engraçado, porque o filme fala disso mesmo, do ato de interpretar – imagens e pessoas. O filme, dirigido por Frears com competência, mas sem imaginação, começa pela eleição de Tony Blair como Primeiro Ministro e a morte de Lady Di.

Nos dias que se seguem à morte de Diana, Frears filma dois lados opostos da política britânica, com grande atenção aos seus rituais e os locais onde são realizados – prestem atenção nos cenários. Primeiro ele mostra a reação da família real, especialmente da Rainha (Helen Mirren, digna de todos os prêmios). São figuras estranhas, essas pessoas. Pouco importa que a Rainha dirija um jipe: suas idéias, atitudes e rituais pouco têm a ver com pessoas comuns. É o inverso de Tony Blair, político bom de lábia e antenado com o público. É fácil gostar dele: um banana simpático, socialmente consciente, pai de família classe média.

Já Frears não poupa a família real, fazendo piadas com seu anacronismo e suas idéias conservadoras (Príncipe George, marido da Rainha, é especialmente assustador). Mas é comovente ver o quanto a Rainha e a família real são incompreendidos. Por exemplo, o público lamentam que a Rainha não tenha feito aparições públicas para mostrar seu luto – embora ela tenha sido treinada a vida toda para ser discreta.

Logo a Rainha percebe que está num mundo de culto à celebridades, onde mostrar seus sentimentos em público é a regra. Sua luta para preservar seus valores (com os quais eu e você podemos discordar) é tocante porque sincera. Tony Blair, no filme, é apenas um showman habilidoso e sem escrúpulos – faz o que a TV manda. É um crítica venenosa que Frears faz ao Primeiro Ministro, mas tão sutil que o diretor optou por deixá-la clara no diálogo final entre a Rainha e Blair, onde ela avisa que um dia ele pode estar no paredão público também –e todos nós sabemos como essa história acaba. ___________________________________________________________

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